domingo, 16 de junho de 2024

ATUAÇÕES MEDÍOCRES

A questão que aterroriza a existência humana é sem dúvidas o medo que silencioso se disfarça em diferentes personagens, com os quais, nos apresentamos nos muitos atos da contínua peça vivencial que escolhemos ou nos é imposta, representar.

O medo está sempre presente e latente, nem sempre perceptível na consciência de quem o sente, mas está lá, determinando a performance, adaptando-a esmeradamente a cada necessidade da ocasião, como se fosse um salvo conduto individual, que justifica por si só, todos os movimentos cênicos, enquanto, no palco, mas nem sempre fora dele, na intimidade da cognição, quando então, ele se expõem, revelando-se assustador.


Combatê-lo é uma tarefa também contínua que comparo com a disciplina em estar presente cotidianamente nas sessões estabelecidas, enfrentando-o, mesmo que a plateia esteja com pouco público, mesmo que o peito aperte, a mente se oprima e o corpo enfraqueça, afinal, o espetáculo, precisa continuar...

Então, a cada dia, mesmo não nos dando conta dos desgastes psicoemocionais em nossa existência, este, vai nos revelando seus estragos, através das infinitas somatizações que adoecem, despertando ou provocando males, que explicitamente nos enfraquecem, tirando-nos o brilho e o viço do corpo e de nossa alma.

O medo é um mestre necessário, pois, freia os ímpetos naturais da fera selvagem de nossa essência animal, que se estrutura e se configura, através de nossos sentidos que são os poderosos sinalizadores que abastassem a mente dos perigos e dos prazeres, cabendo a capacidade absorcisa aliada a lógica processual da mente, ser o  determinante, quanto, ao equilíbrio necessário para que a convivência, seja lá, com o que for, transcorra sem tantos danos colaterais. 

Tudo isso, seria absolutamente espontâneo, se não houvessem tantas e diferenciadas inserções externas, transformando o ir e vir cotidiano, num real e desafiador campo de guerra, onde os explosivos que aleijam, matam e até, causam prazeres, estão, por todo o tempo presentes, exigindo-nos uma competência de luta, um senso avaliativo mais apurado, que não nos foi ensinado, obrigando-nos a utilizar os constantes cacos dos improvisos, transformando em medíocres, nossas atuações.

Regina Carvalho- 16.06.2024 Itaparica

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