E aí, uma nova sexta-feira está chegando devagar, bem devagarinho e cá estou, fiel ao hábito adorável da contemplação dos amanheceres, com a mente absolutamente limpa do ontem já vivenciado e do amanhã que sequer consigo cogitar, ambos com pouca relevância ao hoje, no qual, preciso me centrar. Afinal, só nele, sou capaz de tudo.
E as referências do ontem e as projeções para o amanhã, perderam seus valores e importâncias?
O que fazer com o hoje, se não houver continuidade do ontem?
Como planejar o amanhã, se nem o hoje, servirá de algum ponto de partida?
Os tempos de ontem, hoje e do amanhã, descrevem histórias, narrando vidas, calçando pés, fortalecendo almas, mas o cérebro, já as tem gravadas, muito além do que se possa supor, não necessitando sobrecarrega-lo com lembranças já armazenadas e que independentemente da consciência que tenhamos, lá está, influenciando modos, hábitos e costumes.
Mente viciada...
Deixe-a livre para sentir-se inspirada no ontem, preocupando-se em expor intenções e ações repetitivas, que impedem um olhar momentâneo e mais atento de algo ou alguém que certamente, pode, mas necessariamente, não será como o de ontem, afinal, nada e muito menos, alguém, permanece estático. As mudanças ocorrem, até mesmo para pior, inseridos num processo herdado do ontem, exercitada no hoje, projetada para um amanhã.
Levanto, abro a janela, afinal, com a aproximação do inverno, a luz de um novo dia, está chegando mais lentamente, assim, como os pássaros e o tudo mais, compondo um inédito cenário de cores e aromas, mesmo que as texturas e os sabores, possam parecerem inalterados...
Há muito percebi que nada se repete, tudo se transforma, mesmo que se pareça com o ontem, mesmo que eu queira igual para o amanhã, restando-me o hoje para viver com a base estrutural dos muitos “hoje” que meu subconsciente armazenou, mas que meus sentidos, sábios arquivistas, foram liberando na medida de sua importância e necessidade, com a finalidade única de me permitir viver o hoje, como se fosse o único da jornada existencial.
Valores, virtudes e sabedoria, quando conquistadas, são como tatuagens irremovíveis e mesmo, quando, redesenhadas, o original permanece como ponto de partida para outra surpreendente configuração.
Bom dia com este solzinho ameno, teimosamente resistente que vem e quando vai abrindo passagem para o nevoeiro ou a chuva, deixa a sensação de que de alguma forma, permaneceu em nós.
Regina Carvalho- 07.06.2024 Itaparica
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