AH! meu Deus, porque fizeste-me tão ativamente questionadora, o que me atordoa profundamente, já que o cotidiano é duro e cobrador e na pequenez de minha importância existencial, sinto-me vez por outra, numa encruzilhada, onde preciso decidir entre a lógica e o amor.
Penso então, que os poetas e escrevinhadores, são os únicos, capazes de adicionarem ao amor, uma lógica absolutamente própria que a tudo justifica, colorindo com flores, sonorizando com pássaros, grilos e cigarras imaginárias, variando a depender das circunstâncias, aromas e texturas salvadoras do ostracismo repetitivo, das perdas incomensuráveis, absolutamente aterrorizador da complexidade do apenas ato de viver.
Onde estão as asas dos beija-flores, assanhaços e bem-te-vis?
Onde estão os cantos dos canários e Sabiás?
Onde estão, os aromas da grama fresca, das frutas maduras e da maresia?
Onde estão os sabores das mangas carnudas, dos cajus suculentos, das amoras maduras, se ao enxergar-me vida em meio a um seco deserto, temo perder o viço de uma lógica forjada, de um amor apenas moldado...
E a chuva bendita que ora desaba no jardim, salpica em mim gotas sublimes de um real amor, que reforça sentimentos e emoções, estímulos únicos possíveis para que eu escolha em mais esta encruzilhada, afinal, o caminho a seguir.
Se resultará num acerto ou num brutal erro, só o tempo dirá...
Todavia, poderei vir a sofrer, mais do que já sofro hoje, parada e inerte no centro da encruzilhada?
Esperanço-me só em lembrar, que para poetas e escrevinhadores, quando o tudo mais parece faltar, nas infindáveis ocasiões solitárias, haverá como sempre houve, o socorro imediato das leves e encantadoras borboletas, enfeitando e ofertando sentido à vida.
Regina Carvalho-25.06.2024 Itaparica
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