segunda-feira, 30 de julho de 2018

PALHAÇA



Chora, palhaça da vida
Pedida, iludida
Cansada e tão só.

Chora, poetisa falida
Contista sofrida
Soneto sem rima
De uma vida fugidia.

Lamenta, procura, espera
Cala, consente, permite
Sofre, consola e se irrita
Pede, rebate, defende.

Forte, bonita, sadia
Árvore erguida, majestosa
Pássaro caído, doído
Asa quebrada, coitada.
Canta, sorri, dança
Chora, se dobra, rola
Pede, implora, suplica
Morre, revive, reprime.

Chora, palhaça da vida
Grita, ataca, agride.
Cala, consente, permite
Como uma palhada da vida.

Quem sabe um dia revide
As crueldades que lhe impõem
E aí, quem sabe, se sinta alguém
E não mais uma palhaça da vida.

Poema escrito em 1974 – Brasília- 23.00hs
Parte do livro Força Estranha- Regina Carvalho



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