Não choro
neste dia que seria o seu aniversário e nem em dia nenhum quando lembro de
minha mãe, afinal, lembranças de Dona Hilda só me fazem sorrir, só me remetem a
momentos muito especiais que nem sempre tiveram, a meu ver, a conotação de vantagens
a meu favor, mas com certeza o foram, pois moldaram a criatura que sou, repleta
de dúvidas, de falhas, mas também com muita garra na busca de soluções e
tenacidade na correção das falhas.
Dona Hilda,
sempre linda, perfumada e elegante, repleta de desejos e sonhos reprimidos em
uma época em que as mulheres em sua maioria se restringiam ao lar.
Se viva
estivesse, teria sido uma desbravadora dos direitos femininos, como ensaiou
ainda no final dos anos trinta, quando destemida e contrariando a vontade da
família, mudou-se de casa, levando consigo um filho de meses e deixando um
lindo recado para meu pai.
“Se quiseres me seguir, aqui segue o
endereço, estarei com um prato de sopa quentinho, esperando por você”;
E assim,
dali em diante, durante 32 anos, meu pai compreendeu que havia casado com uma
mulher determinada e extremamente apaixonada, mas que não abria mão de sua
liberdade e do direito de ter sua própria casa.
E foi assim
que eu e meu irmão fomos instruídos e amados por aquela criatura sorridente de
largas gargalhadas, íntegra nas suas posturas, generosa com todos e muito
exigente com os filhos, já que compreendia a importância da disciplina no
estabelecimento e continuidade de qualquer ação.
Dona Hilda
nos deixou fisicamente com apenas 48 anos de idade, deixando-me com apenas 18
anos, mas foram tão sólidos os seus ensinamentos e tão embasada a sua
autenticidade, que mesmo passados tantos anos ainda a ouço e a sinto, como se o
tempo não houvesse passado e seu cheiro gostoso não houvesse cessado.
Então,
chorar porquê?
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