Num instante
para o outro, assistindo a TV, deixei de prestar a atenção nas notícias e me
detive em mim mesma, numa reflexão pouco provável, já que até então, por algum
motivo puramente emocional, minha mente afastou ou bloqueou qualquer maior
observação a respeito de meu corpo interno e externo, após a cirurgia na qual
me submeti em 27 de novembro de 2015.
Como que de
repente, lá estava eu, absolutamente indefesa expondo-me a algo que sinceramente,
jamais havia pensado que poderia ocorrer comigo, repetindo um comportamento
alienado da maioria das pessoas que apesar de serem assistentes da dor dos
demais, não conseguem se ver na mesma situação, e isto, não significa pouca
atenção ou leviandade, apenas não associam a dor do outro a si, mesmo que assim
digam ou escrevam a respeito.
Incrível a
mente humana quanto a sua auto- proteção!!!!
Penso então
que somente agora, quase dois anos depois, penso e entendo a extensão do
procedimento no qual fui submetida e que certamente, prolonga a minha existência,
mas ao mesmo tempo me traz um sentimento de perda, já que alguns dos meus órgãos
foram retirados.
E aí, não é
difícil compreender o porquê eu não ser a mesma, seja na conscientização absurda
do espetáculo da vida, seja no entendimento das muitas limitações físicas que
constato desde então.
E apesar de
ser grata por ainda estar viva, assim como também grata por enxergar tudo mais
claro e deslumbrante, algo em mim ainda indefinido me acomete por todo o tempo,
levando-me a também pensar que fiquei mais séria, menos sorridente, bem mais
contida em minhas emoções e bastante mais realista nas avaliações de qualquer
natureza e isto, que até então não definia, percebo neste exato instante que é
o amadurecimento que tardou, mas com certeza não faltou de lá para cá, mesmo
que sem que eu tivesse plena consciência, como tenho agora.
Fiquei
adulta tardiamente, refutando o que eu mais apreciava que era colocar uma
pitada de aventura em tudo que fazia e que se coloria minha vida por um lado,
deixava-me permanentemente numa espécie de corda bamba, não me permitindo o que
me permite de uns tempos para cá que é, sem palhetas de muitas cores e tons,
iludir minha fragilidade em ser tão somente, um ser humano.
Em um certo dia, quando ainda só tinha 45
anos, descobri enquanto freava em um quebra-molas que havia envelhecido sem
perceber, mesmo já tendo muitos cabelos brancos que eu ostentava como troféu e
hoje, apenas assistindo a TV, percebo-me adulta com a alma amadurecida.
Que coisa
hein!!!
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