Mas na
realidade foi há cinquenta e três anos que, neste horário, o país já se
encontrava sob o controle dos militares.
31 de março de 1964, data inesquecível, sendo que
aterrorizadora para alguns, alienada para a maioria que só se preocupava em estocar
alimentos, pois a mídia dizia que estávamos vivendo uma revolução.
Para quem
morava nos bairros tranquilos da cidade maravilhosa na época, tudo ou quase
tudo em nada se parecia com uma revolução, talvez, um pouco de apreensão, justo
por desconhecermos a realidade de uma, todavia, onde estavam os soldados, os
canhões e a cavalaria de guerra?
A televisão
mostrava os tumultos no centro da cidade, mas tudo muito distante da vidinha
tranquila dos moradores de Ipanema, Leblon e adjacências, que no máximo desfazia-se
de livros e documentos comprometedores, além de se ter notícias de um ou outro
vizinho que no decorrer dos dias e meses que se seguiram simplesmente
desapareceram ou foram presos. No mais, para o cidadão comum e trabalhador, a
vida seguia sem atropelos.
Na minha
família, o mais grave problema foi a falta do Capelão da Polícia Militar que
iria oficializar o casamento de meu primo, o capitão na época Rubens de Almeida
Cosme, mas que foi solucionado com a gentil intervenção de um padre da Igreja
Nossa Senhora da Paz que se prontificou e salvou a cerimônia que aconteceu
justo no dia 31 de março.
Nesta época,
eu tinha 14 anos, portanto, fui crescendo e me estabelecendo em meio a uma revolução
que só veio me atingir, mais de uma década depois, quando inadvertidamente,
escrevi horrores de um coronel reformado, que também era o Diretor Presidente do
jornal que eu trabalhava.
Isso me
custou anos de ostracismo, pois fui advertida que não voltasse a trabalhar em
qualquer meio de comunicação. E a ordem era para não ser desobedecida. Creio
que não foi pior pois ative minhas críticas no aspecto dos relacionamentos
humanos entre patrão e empregado, não adentrando no aspecto político da época.
O tempo
passou, o regime mudou e como ativa observadora, constatei inúmeras desvantagens
em ambos, mas sinceramente jamais havia vivenciado anteriormente, tanto horror
perante os céus, onde milhões de brasileiros se veem reféns de uma democracia
fragilizada, esculhambada e extremamente cruel.
Cinquenta e
três anos depois, estamos bem piores em todos os aspectos, se bem que cercados
da mais alta tecnologia, amparados pelas mais revolucionárias ciências, mas
privados do mais sagrado dos valores que é a liberdade do ir e vir em segurança
e sem o privilégio, a não ser para uma pequena parcela da população, de poder
usufruir das vantagens do progresso que a globalização passou a oferecer, pois
estamos a cada dia mais ignorantes e relapsos nos nossos entendimentos seja lá
do que for.
Livres?
Que
liberdade é esta que nos impede de recebermos das instituições das quais
mantemos pagando os mais altos impostos do mundo, um tratamento respeitoso às
nossas mais primárias necessidades?
Nosso país
faliu, nós estamos falidos, e aí, lembro da minha família classe média que em
nada pode ser comparada com as atuais.
Cinquenta e
três anos depois, e ainda tem figuras que circulavam nos entornos militares e que
hoje, permanecem como espectros, assombrando o círculo político, já não mais
tão sozinhos, pois arrastam consigo filhos e netos, num sugar incansável do
sangue dos brasileiros, num apetite sem fim.
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