segunda-feira, 10 de outubro de 2016

RECOLHENDO CACOS

Os ventos estão tão fortes que mais parecem os de agosto, envergando coqueiros, balançando galhos, derrubando frutos, despetalando flores. Os sons do farfalhar das folhas são agitados, nervosos, pouco amigáveis, fazendo o mar se encrespar e o meu corpo arrepiar. Os pássaros ressabiados procuram, me parece, inutilmente um lugar seguro para se abrigarem, um abrigo mais tranquilo para, então, voltarem a cantar. A natureza me parece zangada, aborrecida certamente conosco que incansavelmente a ferimos com nossas ações destruidoras, numa ingratidão sem limites, numa indiferença que se ainda não a matou de todo, certamente já despertou nesta tão poderosa, mas também generosa senhora, momentos de impaciência que ela expressa desabafando, através de seus ventos fortes e de suas lágrimas de chuva em forma de tempestade. De repente, tudo começa a se acalmar... É a mãe natureza que enxuga as lágrimas, sufoca os gritos, faz calar o pranto. E num ritual de recolher os cacos, assim como ela, lamento pela rosa desfolhada, pelas amoras deitadas ao chão, pelo ninho despedaçado e pela solidão que percebo neste acalmar dos ventos ao meu redor. Que neste domingo, você consiga também recolher os seus próprios cacos pensando unicamente no aprendizado que as dores lhe trouxeram.

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Neste amanhecer o tudo de bom está acontecendo e ao ler esta minha afirmativa, provavelmente alguns dirão que sou uma idiota da terceira ida...