Ao iniciar uma intensificação pessoal de compreensão dos meus
relacionamentos interpessoais há cerca de 20 anos atrás, assim como em relação
a minha postura psicológica, jamais poderia imaginar que iria tão fundo e tão
pouco poderia mensurar as emoções que permeariam o meu contexto de criatura
humana.
Comecei de mansinho, pisando leve, questionando meio
desajeitada, fazendo-me crer que tudo seria possível nesta trajetória como
forma de consolo ou talvez de camuflagem para as sensações que, logo de
imediato, passei a sentir em cada mergulho que me permitia dar em meu interior
de pessoa acostumada que estava a disfarçar o máximo possível o efeito devastador
do toma lá da cá hipócrita que geralmente é o relacionamento com os demais.
Nenhum progresso seria possível se eu não me permitisse
expor-me para mim mesma em atos sucessivos, bem próximos de um exorcismo
impiedoso, onde o objetivo era o de conhecer ações e reações, querendo, através
deste exercício, encontrar o cerne gerador de tantas controvérsias ao meu
instantâneo e natural entendimento de que algo deveria estar errado e que eu
supunha, sem base argumentativa, ser produto de uma vaidade inconsequente,
capaz de direcionar-me a cometer falhas primárias em minhas condutas frente ao
consequente fracasso ou sucesso com o outro.
Percebi, após algumas revelações íntimas, que seria
necessário um mecanismo de defesa que me permitisse abrir minhas comportas sem
que a flagelação se impusesse e, por sua vez, me mantivesse sob o domínio do
medo em não querer ver e sentir meus próprios defeitos ou distorções, ou os dos
outros, transformando cada revelação em uma decepção imediata.
Eu precisava encarar estas experiências como um aprendizado
bendito que me permitisse desenvolver a tolerância e a compreensão para comigo
e para com os demais, fazendo-me encarar cada uma delas como uma oportunidade
em burilar o sentido de convivência para que esta representasse por todo o
tempo uma adição de conhecimentos agregadores a um viver melhor.
Maravilhosa decisão, pois de lá até o momento presente, este
viver melhor foi se consolidando e transformando-me em um alguém mais
genuinamente solidário comigo e com os demais, tirando de mim a pressa em
relação a qualquer conquista se a ela não estiver atrelado à segurança do
entendimento, dando assim, por todo o tempo, a generosa oportunidade em
vivenciar qualquer situação onde haja outro alguém envolvido sem que eu tenha
expectativas aleatórias e possivelmente frustrantes mais adiante.
Afastei, portanto, a surpresa desagradável da constatação
futura deste ou daquele aspecto que de alguma forma poderia vir a tirar de mim
o prazer de estar fazendo ou convivendo, deixando tão somente abertas as portas
das oportunidades vivenciais.
E agora, escrevendo sobre isso, chego a conclusão de que em
momento algum cerceei-me ou deixei de sentir, apenas eliminei a precipitação
afoita que se transformava imediatamente em uma cruel inconsequência que me
fragilizava e me tornava cega frente ao fato primário que dos demais, deveria
colher tão somente o que me fosse afim, sem que com isto, todo o seu todo
precisasse ser questionado ou o que é pior e devastador, absorvido por mim.
Assim como aos outros haveria sempre o meu constante
respeito e a minha consideração em não oferecer meu manancial de camuflagens, justo para não confundi-lo,
levando-o a engolir gato por lebre, por ser tão somente, o politicamente
correto.
Esta minha decisão,
transformou-se ao longo da evolução de meus esforços diários em um selecionador
natural, fazendo de mim, não alguém que abusadamente seja uma seletiva e
arrogante, mas apenas em uma pessoa que não vê sentido em perder o seu precioso
tempo de vida que, afinal, é espetacular em uma perda de energias absurdamente irrecuperáveis, sem
contar que passei a desfrutar de uma harmonia
geral, impossível de ser descrita.
Não posso impedir a inconsequência alheia, mas posso
suportá-la sem que sua devastação me invada e me destrua, pois tão logo a perceba, transformo-a em mais uma
experiência que se somará a minha bendita bagagem de vida e liberdade que
impulsiona a minha vontade voluntária em por todo o tempo não ter medo de ser
feliz, só porque a minha volta exista os vampiros existenciais, sempre prontos
e dispostos a minar e destruir a grandeza da existência e da convivência
cotidiana.
Perdão então para mim em todas as vezes que por descuido e
falta de atenção, escancarei meu coração sem me ater a quem.
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