terça-feira, 2 de novembro de 2010

DÚVIDAS E CERTEZAS NO FARFALHAR DA VIDA

Como em todos os anos já vividos, neste dia dedicado aos mortos, o céu amanheceu nublado e o cinza quase escuro, de certa forma me deixa um pouco melancólica.
Na quietude deste amanhecer, tendo como companhia meus pássaros cantantes que desconhecem feriados e logo cedinho apareceram para suas visitas matinais e meus adoráveis cães que, tais quais os pássaros, se mantém fiéis ao meu lado, ouvindo ou apenas observando minhas emoções que distribuo sem qualquer pudor, pois foi com eles que aprendi a fazê-lo.
Debruço-me então em questionamentos pessoais, justo porque tudo me chama a atenção e nem tudo me parece coerente com o fato indiscutível de que a vida é perfeita e viver pode e deve ser atos contínuos de espetaculares experiências, sejam elas agradáveis ou não.
Quando faço esta observação, não estou idiotamente desconsiderando todas as dificuldades que são possíveis de ocorrer e que certamente dificultam os instantes vivenciais das criaturas em suas proporcionalidades individuais de todos os níveis, esteja ela logisticamente em qualquer lugar.
Baseio-me tão somente nas posturas emocionais distorcidas daquelas pessoas que independentemente do local, situação sócio-econômico, estão por todo o tempo guerreando consigo mesmo em um afrontamento desgastante sem propósitos racionais e que as flagelam, tirando delas o brilho natural, que todos possuem e que, se bem utilizados, produzem maravilhas como ocorre neste instante em que, atenta, observo um solzinho tímido se chegando devagar, dizendo a mim:
- Ei! Regina, a vida não para e eu estou bem aqui para que você não se esqueça de que a vida neste universo infinito é tão somente um ciclo permanente de mutações e que nesta em que estais te fizestes poeta, amante e apaixonada e que nada, absolutamente nada, pode roubar de ti, a alegria de estar vivenciando toda esta maravilha.
E aí, como não levar em consideração recados tão preciosos da natureza?
Ficar atenta à natureza que se apresenta, independentemente de nossa vontade, em todos os dias é o caminho mais sábio de reconhecer seus efeitos sobre nós, porque, afinal, somos parte integrante dela e com ela interagimos por todo o tempo, através de nossos sentidos que, poderosos, assim como nos demais animais, são bússolas precisas, conselheiras incorruptíveis, amparos naturais.
Ouço o farfalhar dos galhos, esfregando-se maliciosamente uns nos outros em uma dança eroticamente inspiradora.
Sinto a brisa teimosamente fresca que, atravessando as barreiras das portas e janelas, adentra atrevida e me traz uma loucura de arrepio que de tão breve e fantasticamente envolvente, me inspira a registrá-la, a fim de não ser esquecida ou não se tornar banal.
Ação de poeta, filósofa da vida.
Neste dia de celebração aos mortos, registro os 44 anos em que, ainda apenas uma garota de quinze anos, pude conhecer a minha brisa eterna, chamada Roberto, e com ela reconhecer e partilhar o farfalhar de uma vida plena.
BOM DIA a todos.

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