quarta-feira, 10 de novembro de 2010

SEM MEDIDA

Em meio ao imenso cansaço da lida que insistente não dá sequer uma trégua, posto-me então diante do imponderável de nada mais poder alterar, não com apenas uma subordinada resignação, mas com a sabedoria do entendimento que, mesmo quase submersa neste mar revolto, sou capaz de reviver à cada realização, fazendo deste ritual, tão somente um bailado de muitas variantes, cujas cores, perfumes e sabores são graciosamente criados pela minha capacidade de amar a vida e, a ela, permanecer dizendo:

- Obrigado.

E novamente, consciente de estar em meio ao confundível, consigo manter-me lúcida, graças as vibrações que recebo através do vai e vém deste vento que, mesmo imperceptível, me nutre com suas energias que vém de um, de outro, serpenteando-me e, neste estado de quase alucinação, sinto-me real, bela e completa, buscando e oferecendo, amando e sendo amada como um ser metaforicamente perfeito. Não pertencendo a nada e ninguém como posse me pertence, mas tudo passa a ser totalmente meu, na medida em que absorvo e sou absorvida em espasmos de gozo absolutamente completos e intransferíveis, a não ser na medida da minha total falta desta mesma medida.

E entre o Raul do aquário, a Tita, o Toy, o Mob, ou os meus pássaros, deleito-me também com o que não posso tocar ou enxergar, mas posso com certeza sentir, através do cheiro da terra ressequida ou molhada e desta maresia que me acompanhou em todos os rincões agrestes de minha vida.

Sinto-me um universo repleto de sentidos e sentimentos, não dou bola pro azar porque nele não creio, mas dou bola pro amor porque nele me amparo.

E neste, para muitos, surrealismo existencial, sinto-me em posse absoluta de tudo, assim como apossada sem reservas de tudo e de todos com os quais posso abraçar e dizer:

- Te amo.

Na variante, alucinação ou escolha lúcida, me entrego e gozo com o atrevimento de quem só deseja o gozo atrevido, razão constante e companheira fiel desta não menos atrevida criatura que, sem pudor, não esconde as tentações, as paixões e os delírios que só podem ser sentidos se forem incorporados à vida com a mesma necessidade que a fome do alimento, que saciada desperta o desejo do repouso, que nada mais representa que um breve intervalo entre a paz e novamente a paz.

Boa Noite ou Bom Dia, à depender da hora da visita a este amigo virtual, sem rosto, mas com alma, repleto, tal qual minha variante alucinação ou escolha lúcida.



Escrito em parceria com Roger Bonfim

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