Não há nada que me ofenda mais do que alguém desconsiderar o meu trabalho ou a minha capacidade em ter minha própria opinião a respeito de qualquer coisa, pelo simples fato de eu ser uma mulher.
Isto não mais existe?
É claro que existe, basta que se queira ver. Maldito preconceito que se camufla em mil formas, mas que permanece latentemente corrosivo, mantendo as mulheres cansativamente tendo que provar por todo o tempo que elas são capazes e, ainda assim, com raras exceções, ganhar menos que os homens e ainda se expor, quando jovens e bonitas, às possíveis cantadas, naturalmente bem mais sutis do que as que eu e outras da mesma geração tiveram que suportar em seus cotidianos profissionais.
Sinceramente, nem sei exatamente porque estou escrevendo sobre isso, talvez seja porque estou me lembrando de um amigo que em dado momento me disse que as pessoas precisam de mim falando e escrevendo sobre a natureza.
Bobagem eu ter me aborrecido, pois na certa, ele só quis me agradar, elogiando o meu lado poético.
Mas para falar a verdade, fiquei puta da vida, e pensei:
- Quem ele pensa que eu sou?
- Alguma idiota, incapaz de reconhecer uma ironia?
- Ou uma ameaça velada?
E aí, todo o meu ser se revolta, frente a qualquer vestígio de preconceito ou desrespeito ao que eu penso a respeito de qualquer coisa.
Cometo muitos exageros e este certamente foi um deles.
Sinto-me na contramão desta via vivencial, como jamais me senti antes, e deduzo que seja porque estou velha e com uma bagagem imensa de conhecimentos sobre as posturas humanas.
Recuso-me terminantemente a ser uma vaquinha de presépio ou a fingir que estou concordando com o que como águas límpidas se apresentam em distonia com o bem comum.
Pensava assim aos l8 anos e penso agora aos sessenta e, é claro, que sistemicamente me ferraram de todas as formas possíveis, mas e daí, eu não me ferrei, não me violentei e tão pouco deixei de ter a poesia, o amor e a vida, como estimuladores do meu dia a dia.
Há quem chame esta forma de ser e de agir de garra, outros chamam de irreverência, outros até dizem que é burrice, eu chamo apenas de opção.
Fiz algumas em minha existência e entre elas, talvez a mais importante, foi exatamente a de ser feliz a maior parte de meu tempo, e isto, logo muito cedo, percebi só seria possível se eu não deixasse que me tirassem a espontaneidade de ser o que eu era e eu era uma pessoa muito simples e amorosamente apaixonada pela vida e por tudo que nela vibrasse, mesmo que esta vibração não fosse exatamente a meu favor.
O tempo passou, como num estalar de dedos, justamente porque não pesou mais que o necessário para que a vida tivesse sentido repleta de infinitas emoções.
Jamais temi sentir as dores que as verdades poderiam causar, assim como jamais camuflei o quanto me sentia fabulosa em meus prazeres emocionais ou carnais.
E agora, neste compasso de despedida desta mesma vida na qual me deliciei, dou-me ao luxo de continuar a só aplaudir o que aprovo, de amar sem me importar se sou correspondida e de poder a cada instante agradecer a este universo inteligente e amoroso todo o carinho e respeito que me dedicou até o momento presente, iluminando o meu olhar, adocicando as minhas intenções e perdoando os meus egoísmos e enganos.
E quando penso na morte, escrevo sobre a vida que, afinal, no meu entender, é tão somente um ciclo ininterrupto de múltiplas vestes.
Hoje, sou a dona Regina do Jornal, amanhã quem vai saber...
Talvez um beija-flor, um raio de sol, um grão de areia, seja lá o que eu vier a ser, com certeza serei vida, gerando mais e mais vida, e por tudo isso alguém ainda pode duvidar que eu aceite que me digam o que devo ser ou pensar?
Quero mais por todo o tempo permanecer feliz.
Boa Noite!
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Bom Dia Regina, muito bom ler suas palavras, Parabéns por compartilhar o Dom que tem de escrever com alma, para nossas almas as vezes um tanto aflita.
ResponderExcluirObrigada
Mariza