terça-feira, 16 de novembro de 2010

EM PROFUSÃO

São, neste exato momento, quatro e quarenta e dois da manhã e os pássaros acabaram de chegar em uma verdadeira profusão de sons.
Neste horário, a maioria das pessoas ainda dorme, alguns por que sofrem de insônia, sequer conseguiram dormir e eu cá estou prontinha para começar o meu dia, depois de um sono profundo e regenerador.
Este é o meu horário preferido, nada mais ouço que o barulho natural da vida e, portanto, quietinha em meu canto, reflito com mais tranqüilidade, escrevo sem qualquer interrupção e confesso que me sinto cercada de muita paz com os meus parceiros energéticos a dividir, comigo, inspirações.
Neste instante penso que se fosse analisada por um psiquiatra, teria como diagnóstico, no mínimo, uma esquizofrenia paranóica, afinal, possuir como amigos de longos papos, pássaros, cachorros, peixes, esquilos, flores e plantas, e ainda conversar com o vazio, crendo estar com parceiros sem corpo físico?
Bem...
Que ninguém nos ouça, mas há cerca de uns vinte e cinco anos atrás, um vizinho, espantado, chamou-me de maluca depois de apreciar-me por muitos meses à cada anoitecer, de mangueira ligada, aguando as plantas, mantendo com cada uma em particular uma conversa prá lá de amistosa, com direito a carinhos e beijos.
Não fiquei chateada e até pude entender o seu ponto de vista. Eu era nova no bairro e com certeza esta era uma prática inusitada.
Pois é, o tempo passou, ele morreu, eu mudei de cidade, mas o hábito de estar com os meus amigos, continua inabalável, apenas mudei meus horários de convivência recreativa que, confesso novamente, muito me faz bem e sem o qual não consigo pensar como seria a minha vida.
Finalmente começou a clarear. Abro a janela e sou abraçada por esta brisa marinha que me faz arrepiar.
- Que delícia, Meu Deus!
Enquanto curto o abraço, percebo que meu pé de amoras, com seus inúmeros galhos flexíveis, está carregadinho e eu penso de imediato na geléia que posso fazer e que meu filho, certamente, adorará e que fará com que minha filha morra de ciúmes.
Ouço um barulho de janela se abrindo. É o meu velho que acabou de acordar. Olho no relógio, e nossa!
Já são cinco e quinze e eu nem me apercebi, embevecida que me encontro com minhas amoras oferecidas, minhas brisas da madrugada, meus pássaros e, Meu Jesus, esqueci-me do Raul, meu peixinho adorável. Preciso dar-lhe de comer. Sempre me atraso, mas fazer o quê, se ele permanece calado, enquanto os demais arruaceiros prendem minha atenção?
Será que como o meu vizinho lá da casa da Pampulha, vocês daqui também me consideram um tanto maluca por eu ter este hábito um tanto quanto esquizofrênico de conversar com as flores, de abraçar os nasceres dos dias, de tentar reter por entre as minhas mãos as gotas das chuvas, sem nunca entender desde a infância por que elas às vezes vêem com tanta braveza. E ainda querer dar nomes aos pássaros que me visitam e principalmente por acreditar que o dia de hoje será exatamente como eu imagino e desejo?
Pois é...
Até posso não ser maluca, mas, um tantinho assim, meio esquisita, podem me considerar que eu não vou ficar chateada.
Agora, sinto um fundinho no estômago. A fome já chegou, fazendo alarde exatamente como os cães dos vizinhos que, com os seus latidos, talvez estejam como eu, festejando o nascer de um novo dia e, é claro, também sentindo as brisas e beijando as flores.
Haverá então quem diga:
- Quanta bobagem!
Eu apenas digo:
BOM DIA à todos.

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