domingo, 14 de agosto de 2022

MASSA DE MANOBRA...

Estou aqui olhando a chuvinha fraca que vez por outra se deita sobre o gramado, buscando palavras que exprimam os meus sentimentos ao longo destes meses de retorno a Itaparica, após o duro golpe da perda de meu companheiro de uma vida inteira, contrariando a lógica e ao bom senso, afinal, estar só é um desafio.


Todavia, como poderia escrever sobre liberdade, equilíbrio se precisasse estar sempre escorada numa suposta segurança?
Como continuar vivenciando sorrindo e produzindo se para tal, não fosse capaz do enfrentamento com o até então, impensado?
Talvez, não seja a postura mais corriqueira e dita normal, mas meu histórico, jamais se enquadrou dentro dos padrões selados e empacotados.
Portanto, não haveria de ser nesta altura de minha vida...
Esse é outro enfrentamento, provavelmente o mais desafiador, já que não sinto esse peso cronológico sobre mim.
Como pensar em idade avançada, se o físico está num patamar, enquanto a mente sem pressa, ainda se encontra a pleno vapor, numa juventude amadurecia e esclarecida?
Não é uma tarefa fácil para se administrar...
Como aceitar o já renegado?
Como querer o já descartado?
Como fingir que tudo é novidade?
Ser uma cronista na terceira idade é uma linha fina entre um chato saudosismo e um perigoso estreitamento com os sempre novos conceitos, numa tentativa patética de adaptação sem real entendimento.
Mas o que fazer diante dos velhos filmes já rasurados de tanto terem sido assistidos, aceitando seus roteiros, fingindo que são inéditas verdades, sem ter o estômago revirado e a mente cansada?
A quem desabafar a dor e o enfado de já ter escrito de mil maneiras o engodo de uma Democracia frágil e capenga?
Como fingir sorrindo que desconheço que por todo o tempo, eu e o tudo mais, não passamos de massa de manobra e até mesmo, aqueles que manipulam, nada mais representam que escravos da hierarquia do poder.?.
E aí, PQP...Só mesmo seguindo caminho numa contra mão doída, mas que como uma fresta bendita, me permite respirar...
Cala boca, dona desbocada, aprume-se, pois, nunca é tarde para se aprender a ser uma hipócrita politicamente correta, traidora sacana, escaladora contumaz, afinal, o que não te faltam são exemplos para simplesmente copiar e enterre de vez, essa sua filosofia de merda, que só tem servido para te ferrar...
Essa é outra luta cotidiana que enfrentei em todos os tempos, entre as pressões sistêmicas e este meu caráter incorruptível.
Afinal, como abrir mão da fresta saudável que me mantém viva, ainda hoje, sem o ar que me renova?

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