terça-feira, 27 de março de 2018

O CONTRADITÓRIO



Fala-se muito no respeito que se deva ter às opiniões contrárias, todavia, difícil de se encontrar na prática dos relacionamentos uma real aceitação, já que é da natureza humana querer sempre estar com a razão, seja lá do que for.
E aí, com o advento das redes sociais, este transtorno de personalidade veio à tona, deixando transparecer de forma crua, o quanto somos capazes de nos esmerar na crueldade, com todo aquele que não concorda com as nossas escolhas ou avaliações.
Não sabemos em geral argumentar, expondo de modo claro nossas ideias e ideais; partimos logo para a agressão, forma rápida de interromper o que poderia ser um salutar aprendizado.
Daí, estarmos caminhando para a barbárie sistêmica, onde a verdade individual se torna absoluta e a ignorância em todos os níveis se solidifica.
Perdemos de tal forma a capacidade de conviver de maneira saudável que, até mesmo, membros do maior escalão da República, como os do STF, se comportam como feras enlouquecidas, perdendo todo o senso de compostura frente ao cargo que ocupam, esquecendo que deveriam ser exemplos de ética comportamental, parâmetros de equilíbrio e guias de decência à um povo destruído em sua capacidade avaliativa.
Perdemos o rumo, justo, porque perdemos as latitudes necessárias às convivências, optando pelo exclusivismo, travestido de direitos que se perdem frente a real e palpável aceitação do diferente e até mesmo do contrário.
Vivemos tempos de, tão somente, hipocrisia social com requintes de um progresso humanitário que não se sustenta.
Confesso que estou assustada com a inversão contínua dos valores morais e éticos, que até precisavam ser lapidados, mas jamais destruídos.
E aí, lembro-me dos saraus que fazíamos nas madrugadas de Brasília em plena ditadura militar, após o fechamento diário das edições do Diário de Brasília, onde cada um de nós, jovens, velhos, brancos e negros, gays e héteros, diretores e empregados, todos, trabalhadores fiéis do ofício da comunicação, que tão somente se encontravam para conversar, trocar ideias, exercitando uns com os outros as delícias da bendita convivência.

E viva a cervejinha gelada do Bar do Marcos, do violão e dos sorrisos francos de um tempo que permanece nas lembranças.
E pensar que às 9 da manhã seguinte, lá estávamos nós, firmes para uma nova jornada de vida e liberdade, cada qual, com o seu jeito de ser e de pensar.
Éramos verdadeiramente livres e sequer nos apercebíamos, pois, a autêntica liberdade não carrega bandeiras e muito menos arrogância, não se impõem, apenas existe, na certeza que reside na alma de cada criatura humana, na medida de seu olhar amoroso para si mesmo e, consequentemente, para o tudo mais.
Tempos difíceis os que estamos vivendo.

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