domingo, 4 de março de 2018

SOLITÁRIA...



Em alguns momentos como o de agora em que o dia amanhece nem assim tão devagar, tão somente no seu devido tempo, em que eu diante do computador nada produzo, dou um tempo, retorno, e aí, preciso deixar finalmente o dia despontar iluminado com seus benditos raios de sol colorindo a vida, para então, conseguir dar seguimento aos meus pensamentos e tentar expô-los da forma mais consciente possível, mas também sem perder a intenção amorosa que me caracteriza como pessoa e profissional.
Numa época de Páscoa como o de agora, também solitariamente escrevia o que viria a ser uma ode ao meu país.
Foram palavras doídas de uma jovem que acreditava que tudo poderia ser diferente e certamente o foi, durante anos a fio, pois o chicote louco e impiedoso do poder podou o meu direito de expressão, deixando-me singrar como náufraga em outros mares e aportando em terras desconhecidas, onde lobos e leões também devoravam carneiros incautos e sonhadores.
Ideologia sem pragmatismo devidamente articulado, sem aglutinação de outros tantos abnegados às causas é, tão somente, doença a ser tratada.
Desde então, não levanto bandeiras solitárias e tão pouco deixo de acreditar ser possível, em algum momento, o nosso Brasil mudar através da conscientização de seu povo, todavia, descobri que preciso me cuidar, preservando a essência e a história de vida que me formou como mulher e cidadã brasileira, não também fechando os olhos para a dura realidade que me cerca, onde lobos comem carneiros e que ainda muitos amanheceres serão necessários para que lugares como Itaparica, que deveriam ser espelhos de grandeza, se tornem humanos no acolhimento uns dos outros.
E foi numa época como a que vivo agora, plena semana santa, plena quaresma, que minha alma destroçada pelo prévio entendimento da cadeia alimentar, que escrevi: “Os abutres também choram”, em berços de ouro e champanhe francês, enquanto o povo canta e sorri embalados na pinga e na cerveja barata, fazendo-se esquecer do prato vazio do amanhã.
O tempo incomensurável, mas também cúmplice, abriu novas frentes, ricos aprendizados, fazendo-me compreender dos abutres e lobos desta cadeia de sobrevivência, onde a fome do poder suplanta a lógica do tão somente, viver, tirando-me a venda do ideal, que cegava o real, o bruto, o impiedoso.
Fecho os olhos e ainda assim enxergo e os dedos que dedilhavam as letras de minhas ideias e ideais, hoje com ontem ainda registram a dor de minha solidão frente a chaga contínua do idealismo em acreditar no que deveria ser e nunca será.
“Oh, Pai, perdoai-vos, porque não sabem o que fazem”

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