Em alguns
momentos como o de agora em que o dia amanhece nem assim tão devagar, tão
somente no seu devido tempo, em que eu diante do computador nada produzo, dou
um tempo, retorno, e aí, preciso deixar finalmente o dia despontar iluminado
com seus benditos raios de sol colorindo a vida, para então, conseguir dar
seguimento aos meus pensamentos e tentar expô-los da forma mais consciente possível,
mas também sem perder a intenção amorosa que me caracteriza como pessoa e profissional.
Numa época
de Páscoa como o de agora, também solitariamente escrevia o que viria a ser uma
ode ao meu país.
Foram
palavras doídas de uma jovem que acreditava que tudo poderia ser diferente e
certamente o foi, durante anos a fio, pois o chicote louco e impiedoso do poder
podou o meu direito de expressão, deixando-me singrar como náufraga em outros
mares e aportando em terras desconhecidas, onde lobos e leões também devoravam
carneiros incautos e sonhadores.
Ideologia
sem pragmatismo devidamente articulado, sem aglutinação de outros tantos
abnegados às causas é, tão somente, doença a ser tratada.
Desde então,
não levanto bandeiras solitárias e tão pouco deixo de acreditar ser possível,
em algum momento, o nosso Brasil mudar através da conscientização de seu povo,
todavia, descobri que preciso me cuidar, preservando a essência e a história de
vida que me formou como mulher e cidadã brasileira, não também fechando os
olhos para a dura realidade que me cerca, onde lobos comem carneiros e que ainda
muitos amanheceres serão necessários para que lugares como Itaparica, que
deveriam ser espelhos de grandeza, se tornem humanos no acolhimento uns dos
outros.
E foi numa
época como a que vivo agora, plena semana santa, plena quaresma, que minha alma
destroçada pelo prévio entendimento da cadeia alimentar, que escrevi: “Os abutres também choram”, em berços de
ouro e champanhe francês, enquanto o povo canta e sorri embalados na pinga e na
cerveja barata, fazendo-se esquecer do prato vazio do amanhã.
O tempo
incomensurável, mas também cúmplice, abriu novas frentes, ricos aprendizados,
fazendo-me compreender dos abutres e lobos desta cadeia de sobrevivência, onde
a fome do poder suplanta a lógica do tão somente, viver, tirando-me a venda do
ideal, que cegava o real, o bruto, o impiedoso.
Fecho os
olhos e ainda assim enxergo e os dedos que dedilhavam as letras de minhas
ideias e ideais, hoje com ontem ainda registram a dor de minha solidão frente a
chaga contínua do idealismo em acreditar no que deveria ser e nunca será.
“Oh, Pai, perdoai-vos,
porque não sabem o que fazem”
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