Às vezes e, ultimamente, com muita frequência, venho tendo a impressão que, confesso me assusta de que, não pertenço mais a este mundo.
É uma sensação de vazio que, longe de ser desagradável, me deixa leve, absolutamente em paz, como jamais antes havia me sentido. E por ser nova, mas também cada vez mais constante, ainda fico meio pasmada, crendo que, de alguma forma, estou à parte de quase tudo, permanecendo como uma telespectadora que, atenta a tudo, observa, mas sem se inserir de verdade.
Logo eu que estou por todo o tempo escrevendo sobre interação, participação e etc. e tal?
Pois é... Que coisa, hein?
Penso, então, que talvez seja a bendita plenitude que busquei por toda a minha vida, sem exatamente compreender como ela se apresentaria, quando finalmente a atingisse.
Será que após tantas décadas de buscas e esperanças em consegui-la, justo porque jamais deixei de crer que estar neste mundo maravilhoso fosse mais que apenas seguir padrões pré-determinados, ela me alcançou e eu ainda não me dei conta e resisto repleta de dúvidas e incertezas?
Na verdade, tudo que venho vivenciando e que é totalmente corriqueiro para as outras pessoas, para mim, parece tão sem sentido, às vezes meio falso, às vezes surreal.
Fico sempre com a impressão de que eu deveria estar em outro local, fazendo outra coisa, até mesmo sozinha. Que estar ali, sem estar participando por inteiro, é antes de tudo um abuso comigo mesma e ao mesmo tempo, fixo minhas atenções em outros aspectos que percebo assustada que passam batidas à maioria das pessoas ou são simplesmente tratadas rotineiramente, sem qualquer verdadeira atenção que mereceriam.
Há algum tempo atrás, cria estar sendo arrogante, afinal, tantas pessoas envolvidas estariam erradas ou no mínimo desatentas em relação a isto ou aquilo?
Quase pirei, pois quem seria eu afinal, dona da verdade? A sabichona?
Aos poucos, lendo, ouvindo especialistas de diversas áreas, assistindo a documentários nacionais e internacionais, fui percebendo que este, digamos, “mal que me afetava, também atingia a outros neste mundo de meu Deus”.
Eram pessoas que faziam questão de irem mais além do convencional, buscando alternativas naturalistas para enfrentarem um sistema cada vez mais cruel que , impiedoso, vinha ao longo dos milênios, encurralando as criaturas a uma robotização que mutila o que elas tem de mais precioso, que é justo suas liberdades existenciais, sufocando-as através da indução de comportamentos sociais de falsa valorização pessoal , onde a competição desmedida foi fragilizando a qualidade de cada postura, pensamento e consequente ação, transformando em lúdico muitas das emoções que fundamentam todo e qualquer projeto criativo de construção emocional livre e saudável.
Entretanto, com toda esta bagagem de entendimentos, mas também com a força impiedosa dos velhos condicionamentos, ainda sinto uma ponta de culpa por não conseguir achar sentido em certos rituais, como Velórios, Natais ou dias disso ou daquilo.
Sinto ainda culpa por não me inserir em qualquer manifestação religiosa, por que sinto a desnecessariedade em ter intermediários entre eu e Deus. Assim como, não consigo compreender porque o ser humano fala tanto em caridade, amor e respeito, sendo o primeiro e único a conscientemente devastar a si próprio e a tudo e a todos que o cerca.
Penso, então, que independentemente de estar sendo arrogante afirmando meus sentimentos, estou sendo franca ao expô-los e isto é estar fora de qualquer contexto sistêmico onde a última coisa que se pode ter é justamente franqueza.
Olho ao meu redor e, se culpada, vez por outra ainda me sinto, também livre me encontro, o que certamente representa uma incoerência, mas e daí se estou lucidamente em um processo evolutivo, onde o principal objetivo é conseguir extrair desta experiência vivencial o máximo possível de emoções até atingir aquela plenitude que desconfio estar quase conseguindo. Pondero então, que se o preço for exatamente o que venho por toda a vida pagando, que é parecer ou em muitas ocasiões, estar fora de contexto, que então eu pague até o último dia de minha vida terrena, porque tem sido muitíssimo gratificante, constatar por todo o tempo, que não tenho qualquer medo de buscar o além do banal.
Esta é a mais nova realidade que ainda estou aprendendo a assimilar, pois afinal, algo só nos é real, quando conscientemente a reconhecemos em nós, compreendendo seus efeitos, físicos e mentais.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
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