O mês de dezembro, logo no seu primeiro dia, começou para mim de uma forma muito especial.
Como ocorre todos os dias, cheguei à tarde na loja e, para minha alegria, constatei que havia um presente para mim que o meu amiguinho Luiz, de 14 anos, havia deixado.
Gente... Era um saco de lindos cajus. Maravilhoso!
Já escrevi a respeito de cajus em várias ocasiões, pois acho que, juntamente com a manga, são os frutos mais bonitos e cheirosos, além de carnudos e saborosos.
Agora, além disso tudo, ainda ter sido um presente do Luiz, só posso considerar que foi um recado do Meu Deus, querendo que eu não me esquecesse que sempre vale a pena investir carinho, respeito e solidariedade nas crianças.
O mundo está abarrotado dos Luizes, Marias e Josés que não pediram para nascer e que nada possuem além do fato de estar existindo. A eles, falta tudo que nos sobra e, ainda assim, somos egoístas e preconceituosos.
Quando, nem que seja por um pouquinho, nos direcionamos a eles para tão somente respeitá-los, levando-os a crer que são capazes de suplantarem suas adversidades com suas potencialidades, logo nos surpreendemos com um retorno de luz desta mesma criança, bastando tão somente que fiquemos atentos e, acima de tudo, respeitosos aos seus esforços pessoais.
Mês a mês, esta criança vem superando sua própria miséria existencial de todos os níveis que a rodeia, escorregando cá e acolá e, em todas, nós conversávamos e, aos poucos, fui percebendo que ele também começou a reconhecer o quanto estava valendo a pena mudar suas atitudes, que nada mais eram que gritos de revolta a um sistema prá lá de cruel para muitos como ele.
Com um pouquinho de atenção, consegui que ele se enxergasse um garoto bonito e saudável, apesar de todas as suas dificuldades.
Em dado momento, ele se motivou a retornar às aulas na escola noturna e se ainda está capengando no aprendizado, pelo menos já comparece e não mais é considerado um terror.
E creio que este foi apenas o começo de uma mudança expressiva que se coroou com um gesto bendito de carinho, trazendo-me através dos frutos cheirosos e suculentos, todo o perfume intencional de suas lutas diárias de superação e transformação pessoal.
E aí, penso no quanto é gratificante saber que uma criança, considerada perdida, dedicou pensamentos e intenções amorosas a mim, através de cada caju que colheu, pensando em me ofertar.
Poderia eu desejar, presente mais especial?
E aí, você também não conhece um Luiz, uma Maria ou um José?
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