quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Um Deus mais humano...

Olha-se ao redor e tudo parece normal. Uma discussão irrompe entre duas mulheres que parecem amigas, uma criança faz birra e sua mãe a arrasta rua a fora, alguém ecoa uma gargalhada estridente, um carro freia bruscamente, alguém xinga um palavrão, jovens passam rindo alto, fazendo brincadeiras uns com os outros, o carro de som faz publicidade de alguma coisa que não deu para entender, pois do sistema de alto-falante dos postes (que se auto-denomina rádio) soa uma música barulhenta, levando-me a crer que em breve enlouquecerei se não houver uma pequena trégua neste emaranhado de sons e movimentos, cores e aromas.
De repente, tudo se acalma, ouço apenas a voz chata de alguém pregando o evangelho e fazendo dele sua espada afiada contra os gays e lésbicas da região.
Penso, então:
- O que é isso, meu Deus?
- Que pessoa é esta que desafia a Lei e se coloca no papel de julgador, crendo que seu Deus, de tão particular, lhe dá o passaporte para estar acima do respeito que deveria ter pelos seus semelhantes.
Afinal, que Deus é este que está sendo cultuado que antecipa o julgamento de seus filhos terrenos, dando cartas brancas a seus mais fanáticos seguidores para falar e agir em nome dele?
Que Deus é este que segrega sem piedade, jogando ao descrédito todo aquele que decide ser apenas ele mesmo, tirando as máscaras e as camuflagens de suas opções pessoais?
Que Deus é este que amplia a discórdia, estimulando o apartheid?
Que Deus é este que abandona seus filhos ao julgamento dos fanáticos que de tão hipócritas se tornam cruéis?
E que religião é esta que desconhece o equilíbrio da compreensão divina e permite que seus seguidores se tornem algozes de suas diferenças?
É preciso que meditemos sobre o que pensamos, falamos e fazemos.
É preciso que busquemos a ternura que certamente possuimos em nosso emocional.
É preciso que façamos uma revisão de nossas atitudes perante a tudo que nos parece estranho e adicionemos à cada crítica que nos parece justa, uma pitada única que seja de toda a sabedoria que está implicitamente inserida em nossa capacidade em sermos humanos tal qual a nossa natureza de raça.
Que o Deus que é tão usado como muleta, seja também um forte escudo contra a dolorosa postura de senhores da verdade, que, afinal, justifica todas as mazelas passíveis de serem identificadas nos relacionamentos, ditos humanos, por todo o tempo.
Que o Deus que ostentamos como propriedade nossa, nos sirva de amparo aos nossos mais rudimentares sentimentos de medo e insegurança, abrindo nossas áureas de emanações pessoais para que sejamos, como unidade molecular de vida, um agregador interativo entre a vida e a vida, estimulando as energias vibracionais de respeito e compreensão a tudo quanto possa fugir ao nosso entendimento.
Que neste Natal consigamos fazer do símbolo Jesus que ostentamos como nosso, se transforme em de todos, através das vibrações amorosas que certamnte refletirão em nossas posturas, fazendo os nossos caminhares ficarem mais suaves e, portanto, mais bonitos.
Que fechemos este ano de 2010 rconhecendo que fizemos a nossa parte, mas que certamente poderíamos ter feito bem mais.
Que as omissões que nos impusemos, criaram rios e cascatas de perdas para muitos, e que isto poderá ser minimizado através de uma alteração postural que está ao nosso alcance realizar.
Enfim, que o nosso Deus, que acima de tudo é misericórdia, nos cubra de sua glória, força e sabedoria para que se não ainda somos capazes de amar aos nossos semelhantes, que pelo menos os respeitemos em suas formas de ser e de vivenciar seus instantes presentes e terrenos.
Que neste Natal o nosso Jesus renasça para nós trazendo à nós a lucidez de podermos recebê-lo tal como é em semelhança aos seus semelhantes:
"branco, negro, amarelo, vermelho, pobre, remediado, rico, saudável, doente, piedoso, maldoso, homem, mulher, gay, lésbica...".

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