Enxugo as lágrimas teimosas que insistem em rolar por este rosto de mulher madura e penso, então, que se néctar regenerador este choro fosse, nenhuma ruga existiria neste meu semblante, assim como, nenhuma mágoa deixaria de ter sido lavada e, portanto, retirada desta minha alma de artista que, tal qual as lágrimas, insiste em enxergar um mundo mais bonito que na realidade o é.
O que fazer com este sentimento de frustração, quando por instantes vejo-me diante do imponderável?
Os anos passam e apesar das lágrimas parecerem as mesmas e eu crer que até mesmo choro menos, vejo-me como agora, sem qualquer amparo, chorando novamente por mais um barco que não voltará jamais.
E apesar de saber que outros virão, como sempre vieram, não encontro consolo por este, que acabo de perder.
Deixo-me então chorar, pois fazer mais o quê, se não mais me cabe singrar ao lado deste barco que não mais verei.
Penso então, em minha alma de artista que, livre, cria e molda incansável paralelos de luz, mas que também se curva de dor, pelo desencanto ou talvez seja mais verdadeiro dizer que seja pela impotência de nada mais poder acrescentar a este e a tantos outros barcos que seguiram seus próprios rumos, sem olhar, por um só instante, a dor de minha perda, à beira do cais.
E se nunca precisei chorar pela perda de um grande amor, com certeza muito chorei pelas perdas das ilusões em meu cotidiano de mulher com alma de artista que teimosa insiste em pincelar com cores, oferecendo nuances de brilho, na teimosia da artista em enxergar o belo e o ideal ponderável.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
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