segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Natal está chegando


Faltam 11 dias para o Natal, mais um ano que chega ao fim e eu, é claro, como todo mundo, estou animadíssima, já pensando se asso um Peru, Chester ou “aquele pernil”.

Todo mundo? Olha só que generalização alienada! Quem dera que assim fosse em cada local deste mundo de meu Deus. Entretanto, a realidade é bem diferente, pois o número daqueles que estão fora desta possibilidade gastronômica é assustador, levando-me, então, a pensar que o Deus no qual me apoio, e que creio ser o responsável pela minha permanente fartura, certamente não é o mesmo que permite a fome e a miséria.

Afinal, por que o faria?

Qual a explicação possível de ser considerada com bom senso?

Em cada seita ou religião, certamente existe uma argumentação, impossível de ser contestada, mas como sou teimosa e não me convenço facilmente, ainda não pude aceitar nenhuma delas, porque simplesmente se o fizesse, teria também em crer que já nascemos com nossos destinos traçados, e aí, bem… tudo passaria a ser pré- determinado e eu certamente ficaria desestimulada, perdendo rapidamente a capacidade em crer em mim mesma e na minha potencialidade pessoal em ser e ter o que desejo, amparada por um Deus generoso.

Por outro lado, também reconheço que existem situações onde o ser humano nada pode fazer, além de aceitar o seu destino cruel e aí, novamente, penso no Deus que lhes acompanha e certamente em nada pode ser comparado ao meu que por toda a minha vida sempre esteve ao meu lado, oferendo-me oportunidades, dando aquele jeitinho quando piso na bola e faço besteiras ou apenas premiando-me frente a todos os meus esforços. Isso, sem esquecer que já nasci com tudo que alguém precisa para se sentir filho de Deus, e aí, pergunto-me se de verdade somos todos filhos desse Deus, se ao nascermos já somos designados para esta ou aquela condição, seja de fartura ou miséria.

O que determinou no mundo espiritual a minha origem? Sou fruto de um acaso genético, enquadrado em um status sistêmico ou fui uma escolhida pelo meu Deus para vir a esta vida apenas para senti-la no que existe nela de melhor? Se assim foi, quais os critérios utilizados pelo meu Deus para escolher-me?

Se por outro lado sou um acaso genético, então posso deduzir que nada, nem mesmo Deus, interfere, ficando os louros de minha vida farturenta às custas da pura sorte, como se eu fosse tão somente o resultado de uma partida de Black Jak, onde as cartas de mamãe e papai quebrassem a banca das probabilidades. Que coisa, heim?

Estes questionamentos e comparações absolutamente primários e blasfêmicos, são resultados de uma vida de incompeensões, frente à míséria que, teimosa, assola o mundo e me cerca por todo o tempo, levando-me a crer em muitos momentos, quando penso ou com ela convivo, que este meu Deus que tanto me adula, sabe ser duro e se tornar indiferente a tantos outros.

Penso então em Castro Alves ao escrever: - Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me senhor Deus se é verdade ou mentira, tanto horror perante os céus!

O Natal, mais uma vez está chegando, sem conseguir apagar a dor do abandono social que meus olhos enxergam e que minha fé, traduzida em palavras de socorro, jamais conseguiram ser ouvidas por todos aqueles que dispõem dos recursos e dos poderes para aplacá-la, nem mesmo este Deus que para mim sempre foi presente e generoso.

O que de bom fiz eu para merece-lo por todo o tempo e o que de mal fizerem outros, que sequer são reconhecidos por ele como seres à sua semelhança, merecedores por serem no mínimo resistentes, de sua luz e de suas bençãos?

Perdão, ó MEU DEUS!, se não sou ainda capaz de conviver com a miséria sem questionar-te nos teus valores avaliativos.

Perdão, ó MEU DEUS! por ser tão pouco capaz diante de tantas bençãos de ti recebidas e por ainda não ser capaz de fechar, como tu, os olhos e os sentidos frente a dor da fome e da miséria que assola a uma parte da humanidade, que provavelmente, assim como eu, crê em ti, sem, no entanto, deixar de questionar os teus métodos, que no mínimo só um Deus pode entender ou talvez uma fé cega, que tão somente sirva de bengala à incompreensão diante de teus critérios.

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