Muito interessante são os nossos filhos, quando
crescem e acreditam piamente que nós, os pais que tudo sempre fizeram para educa-los,
já não sabemos de absolutamente nada, aliás, de umas décadas para cá, somos vistos
como úteis apenas para cuidar dos filhos deles, enquanto, trabalham, todavia,
nós, por não termos tido a mesma facilidade, tínhamos que nos virar nos trinta,
pois é bom lembrar que nem todas as mulheres eram apenas donas de casa.
E a coisa
começa cedo, exatamente na escola, e aí, muitas vezes, riem das nossas caras
frente aos métodos atualizados de ensino, que até podem nos parecer estranhos,
mas que também estão bem aquém dos antigos, pois naquelas épocas remotas,
aprendíamos melhor e mais rápido.
Lembro-me de
ter decorado o poema Navio Negreiro de Castro Alves com apenas 9 anos, enquanto
cursava a antiga terceira série primária, e de ter ganhado o primeiro lugar em
um concurso público, promovido pela Editora Abril Cultural, sobre os 400 anos
do Rio de Janeiro, com apenas 14 anos, cursando o segundo ano do ginásio.
Mas quando
chegam na faixa dos 14/15 anos, aos olhos de nossos filhos, deixamos de ser
pessoas para nos tornarmos completos retrógrados, completamente fora da
atualidade, afinal, só existe aí, uma realidade que é não poder competir com os
“amigos”, sempre muito mais atraentes e inteligentes. É neste crucial momento,
que sentimos o nosso mundo de pai e mãe desabar, pois descortina-se no
cotidiano das relações familiares a dolorosa sensação de impotência, já que
reconhecemos não estarmos preparados para o árduo duelo com as influências que,
em muitas ocasiões, nos fazem pensar que aqueles filhos que geramos e educamos,
nos parecem verdadeiros estranhos.
Mas nada
como um dia atrás do outro, afinal, superadas essas fases, agora com os filhos
mais adultos, alguns trabalhando outros estudando, pensamos aliviados que, pelo
menos, as preocupações amenizaram-se. Qual nada, aí é que o bicho pega, pois de
uma hora para outra, lá estão eles, namorando, transando e muitos fazendo
filhos, imagine que nós, os abobalhados, segundo eles, ainda teremos que educar
para que eles possam ganhar e construir suas vidas, isso, quando não trazem os
parceiros amorosos para viver debaixo do nosso teto, para que possam economizar
ou nada fazer, como uma assustador número de jovens modernos e descolados.
Mas o pior,
ainda estará por vir, caso venhamos a viver muito e nos tornemos velhos, pois a
inutilidade aos olhos dos filhos toma proporções que vão além do imaginário,
afinal, velho não sabe cuidar do que tem, velho não pode fazer isso ou aquilo e,
de repente, nos tornamos filhos, nem sempre, infelizmente, bem atendido pelos
filhos, mas sempre irremediavelmente inúteis aos olhos de cada um, excetuando-se
o cartão da aposentadoria que fatalmente passa a ser controlado e sacado sob os
olhares atentos do dedicado filho, que teme que papai ou mamãe sejam roubados
na porta do banco ou que simplesmente percam, e aí, neste dia abençoado a cada
fim ou início do mês, todas as atenções se voltam para os pais, velhos, inúteis
e cansados, mas possuidores de uma alforria mensal, que pode durar, quando
muito, até o saque.
Tarefa
difícil é a de ser pai e mãe, pois, quando o final é feliz e tudo que eu
escrevi fica diferente depois que se tornam adultos, ainda assim, deixamos de
ser gente para nos tornar, tão somente, velhos incapazes aos olhos dos filhos,
a fim de não mais sermos produtivos e apaixonados, levando-os a acreditarem que
por envelhecermos, perdemos o gosto de vivenciar tudo quanto gostávamos na
nossa juventude.
Bem, aqui em
casa é diferente, pois além de não darmos bola para o que pensam ao nosso
respeito, ainda seguimos privilegiando e adaptando os prazeres às nossas realidades,
que a cada dia, se altera, mas não incapacita.
Deixar de
beijar gostoso, mergulhar nas águas mornas de nossa Ponta de Areia, conversar
com os pássaros e sentir os perfumes de cada amanhecer, assim como comer delícias
e beber com moderação com extremo prazer, serão sempre as tônicas cotidianas,
enquanto a vida, assim o quiser.
A tarefa foi
difícil, mas nos trouxe muitas felicidades e a sensação gratificante do dever
cumprido.
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