quinta-feira, 14 de novembro de 2019

BOLERO DE RAVEL



Durante todo o ano de 2018, o Disque 100, canal de denúncia oficial do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, recebeu 17.093 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. Das denúncias recebidas, 80,86% são relacionadas ao abuso sexual e 15,78% à exploração sexual. Cada uma dessas violências possui características distintas, mas os danos causados às vítimas são igualmente devastadores.
Enquanto isso, escamoteia-se o assunto, fingindo-se hipocritamente que este absurdo, não está de forma brutal ligado à pobreza e sua consequente marginalização.
As ações públicas de denúncia, prevenção e punição existem, mas ainda de formas tímidas, se comparadas à outras que ocupam as redes nacionais de notícias e as mentes das pessoas, como se uma não estivesse intrinsecamente ligada a outra, num ciclo de violência que só cresce, miserabilizando as sociedades como a nossa que possui baixíssimo índice educacional.
Em breve, com a chegada do verão, as mídias televisivas, buscarão em seus arquivos as velhas e carcomidas notícias sobre o assunto, realçando o turismo sexual, como se este, fosse o mantenedor deste tumor maligno, que em sua maioria é encontrado no próprio corpo doméstico.
Não há promoção sobre o assunto, pois este é mais um “tema tabu”, ficando como tantos outros, relegado a flashes noticiosos e pesquisas quase invisíveis, além de prevenções e punições públicas sem qualquer maior empenho, enquanto isso, discute-se em defesa ou acusações, sem qualquer consciência da existência da lógica, os emocionais fascinantes sobre a cor da cueca que “Lula” irá usar no almoço no Palácio de Ondina, esquecendo-se da tragicômica situação de um Governador, representante do povo de um estado, receber com honrarias um ex-presidente condenado por diversos crimes, como se o palácio em questão, fosse propriedade de um partido e não de uma população nacional.
Essas incongruências posturais em todos os níveis, podem até não parecerem perigosas e responsáveis pela situação caótica do flagelo humano de nossa esmagadora população dos “sem tudo” que dominam o cenário nacional, mas são, e precisam ser combatidas com a mesma veemência que outros, não menos importantes, que o foram e são a cada instante, nas telas, nas mídias, nas esquinas e nas nossas consciências, quanto ao reconhecimento de que tudo que se vivencia, não surge do nada e que tudo, está irremediavelmente, ligado ao todo..
Breve, Fernandinho Beira-Mar poderá ser convidado para receber a “medalha da ordem e do mérito”, por ser o mais antigo condenado a liderar do presídio, o inferno de Dante em todo o país.
Enquanto, a consciência não se estabelece, resta dançar-se o Bolero de Ravel, melancolicamente no palco da caótica vivência cotidiana.

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