No século passado, mais
precisamente no final dos anos cinquenta, quando, ainda a TV era um sonho
americanizado para a grossa maioria dos brasileiros, havia um programa às
sextas- feira na RádioTupi do Rio de Janeiro, comandando pelo então, jornalista
Henrique Fôreis Domingues, o “Almirante”, que mexia com o imaginário dos
ouvintes. O programa contava histórias fantásticas de terror e mistério
enviadas pelos ouvintes.
Ainda me lembro que
sentadinha no tapete ao chão, rodeada pelos meus pais e irmão, acomodados em
suas poltronas, após o jantar, ouvia as tenebrosas histórias, que foram tão
impactantes, que até hoje, posso lembrar da voz poderosa do narrador, que me assustava
mais que as histórias que a minha mente de criança de quatro /cinco anos, não era
capaz de compreender.
Não esqueci é verdade, assim
como, ficou guardadinha no inconsciente, como se fosse um sinalizador mental,
que identificava o inadequado que, eficiente, indicava com precisão todas as
manifestações do inadequado.
E aí, ao longo de minha
vida, fui detectando a cada momento tudo quanto, me pareceu incrível,
fantástico e extraordinário, no tocante não só ao inadequado, mas
principalmente, a todas as grandezas possíveis de serem encontradas na criatura
humana.
Através destas descobertas
fabulosas, convivi e aprendi muito, no entanto, confesso que ainda me assusta,
o quanto, o misterioso de qualquer natureza, permanece intocável, frente a
necessidade humana em acreditar no extraordinário, mesmo que beire as raias do
absurdo.
Os sons incríveis que
atravessavam fabulosamente a tela tecida de barbante amarelado do rádio de
minha casa, definitivamente, adentraram em minha mente infantil, determinando
com paixão a minha futura predileção pelas narrativas do cotidiano, sempre
impregnadas do incrível, do fabuloso e do extraordinário comportamento humano.
Amanheci pensando na exclusão
continuada que não é enxergada e muito menos compreendida com naturalidade, nos
sutis ou inflamados discursos aos quais nos acostumamos a ouvir ou ler, mas que
na realidade, escondem enganadoras falácias sobre desenvolvimentos sustentáveis
e inclusões democráticas humanas, onde o disfarce ao preconceito se apresenta
de mil formas envolventes que, por incrível que se possa parecer, ainda engana
e distorce a seriedade da busca do que seria o ideal socialista, através do equilíbrio
nas convivências.
E aí, lembro que no feriado
passado, enquanto secávamos os corpos à sombra de um bucólico coqueiro nas
areias em Ponta de Areia, que abusadamente chamo de meu quintal, somos
surpreendidos com uma família que chegou com cooler e churrasqueira.
Sorrimos para eles e ficamos
pensando, o quanto a praia é democrática, dando espaço a todos sem qualquer
cobrança, enquanto, nós, filhos da arrogância, primos da infâmia e irmãos da
segregação, cremos que podemos e devemos impedir que a liberdade se estabeleça
e o direito seja respeitado, ignorando o simples fato de que sempre há lugar
para todos, desde que sejam respeitados os limites necessários para a
preservação do individual e do tudo mais.
Final da história, foi que os
“Turistas farofeiros” nos ofereceram uma latinha de cerveja, a qual, aceitamos
com prazer.
Simples assim...
OBS: O que uma coisa tem com
a outra? Na apenas leitura do texto, nada, mas ao interpretá-lo, provavelmente,
tudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário