Fala-se
muito no respeito que se deva ter às opiniões contrárias, todavia, difícil de
se encontrar na prática dos relacionamentos uma real aceitação, já que é da
natureza humana querer sempre estar com a razão, seja lá do que for.
E aí, com o
advento das redes sociais, este transtorno de personalidade veio à tona,
deixando transparecer de forma crua, o quanto somos capazes de nos esmerar na
crueldade, com todo aquele que não concorda com as nossas escolhas ou
avaliações.
Não sabemos em
geral argumentar, expondo de modo claro nossas ideias e ideais; partimos logo
para a agressão, forma rápida de interromper o que poderia ser um salutar
aprendizado.
Daí,
estarmos caminhando para a barbárie sistêmica, onde a verdade individual se
torna absoluta e a ignorância em todos os níveis se solidifica.
Perdemos de
tal forma a capacidade de conviver de maneira saudável que, até mesmo, membros
do maior escalão da República, como os do STF, se comportam como feras
enlouquecidas, perdendo todo o senso de compostura frente ao cargo que ocupam,
esquecendo que deveriam ser exemplos de ética comportamental, parâmetros de
equilíbrio e guias de decência à um povo destruído em sua capacidade
avaliativa.
Perdemos o
rumo, justo, porque perdemos as latitudes necessárias às convivências, optando
pelo exclusivismo, travestido de direitos que se perdem frente a real e palpável
aceitação do diferente e até mesmo do contrário.
Vivemos
tempos de, tão somente, hipocrisia social com requintes de um progresso
humanitário que não se sustenta.
Confesso que
estou assustada com a inversão contínua dos valores morais e éticos, que até
precisavam ser lapidados, mas jamais destruídos.
E aí,
lembro-me dos saraus que fazíamos nas madrugadas de Brasília em plena ditadura
militar, após o fechamento diário das edições do Diário de Brasília, onde cada
um de nós, jovens, velhos, brancos e negros, gays e héteros, diretores e
empregados, todos, trabalhadores fiéis do ofício da comunicação, que tão
somente se encontravam para conversar, trocar ideias, exercitando uns com os
outros as delícias da bendita convivência.
E viva a
cervejinha gelada do Bar do Marcos, do violão e dos sorrisos francos de um
tempo que permanece nas lembranças.
E pensar que
às 9 da manhã seguinte, lá estávamos nós, firmes para uma nova jornada de vida e
liberdade, cada qual, com o seu jeito de ser e de pensar.
Éramos
verdadeiramente livres e sequer nos apercebíamos, pois, a autêntica liberdade
não carrega bandeiras e muito menos arrogância, não se impõem, apenas existe,
na certeza que reside na alma de cada criatura humana, na medida de seu olhar
amoroso para si mesmo e, consequentemente, para o tudo mais.
Tempos
difíceis os que estamos vivendo.