Era Natal e
findava o ano de 1962, e eu completara 12 anos. Naquela época, meninas desta
idade, ainda brincavam de boneca e obedeciam aos pais, pediam a benção aos tios
e avós e respeitavam os professores. Hábitos antigos que a modernidade apagou, matando
a ingenuidade da infância e destruindo de forma cruel toda uma adolescência que,
a partir daí, passou a extremar seus conflitos, atropelando uma etapa de buscas
interiores, tão necessária para o fortalecimento da trajetória que vem à
seguir.
E foi nesta
época, do rabo de cavalo e das meias soquetes que dela, a “Deusa”, ganhei um
lindo e fofo bebê de borracha da “ESTRELA” que me era possível alimentar por um
orifício na boquinha e a trocar fraldas, pois havia um caninho interno.
Novidade fantástica que me seduziu e que durou 50 anos, pois somente aos doze
anos, minha filha Anna Paula, ofereceu a uma criança, que pelo bebê se
encantou.
A “Deusa”
chamava-se Hilda Roxo, era minha tia, irmã de meu pai e eu a amava, pela sua
beleza deslumbrante, seu sorriso calmo, seu olhar sereno e pelo carinho que me
dispensava.
Com ela
aprendi a amar a natureza, prestando atenção no seu poder de restauração
através de suas cores, aromas e sabores.
E foi com
ela que aprendi a identificar e a me familiarizar com Deus em meu cotidiano,
fazendo dele meu parceiro constante, enxergando-o e sentindo-o num pingo de
chuva, no calor do sol, no arrepio de uma brisa, no sabor de um alimento, no
frescor de um banho até mesmo de chuveiro, num bater de asas de um pássaro, num
sorriso de alguém e, principalmente, aprendi o valor em tê-lo num simples
respirar.
E para
facilitar o meu entendimento e assimilação do valor da vida, ela agia plagiando
os sábios e antigos gregos, levando-me in loco e designando cada grandiosidade
com o título de um Deus ou uma Deusa, sempre acompanhado de poemas que dela
brotavam e, a partir daqueles instantes mágicos, fui aprendendo a reverenciar o
aparente simples e comum como joias raras da vida, autênticos Deuses e Deusas
da natureza.
Poeta,
psicóloga, professora, espiritualista, mas acima de tudo um ser muito especial
para mim e para milhares de outras criaturas que dela, nossa eterna “Deusa da
Lua”, extraíram o gosto de sentir o gosto doce da vida.
Ainda hoje,
42 anos depois de seu passamento, seus fieis aprendizes e seguidores mantém
vivas as suas lembranças através da aplicabilidade diária de seus ensinamentos,
levando aos demais o respeito à vida e a tudo que nela reside.
Que seu
espírito iluminado continue servindo de guia, aos filhos de teus filhos e aos
filhos destes que seriam teus bisnetos e assim por diante, mantendo o ciclo de
amor que iniciaste ainda muito jovem, com apenas 17 anos e que fortalecestes ao
longo de 46 anos a frente de uma instituição que foi mais do que qualquer
coisa, um reduto de amor e solidariedade, cujas portas estavam sempre abertas
ao acolhimento e à fraternidade, pois teus ensinamentos eram como cascatas de
amor, onde o senso amoroso do coletivo abraçava o individual sem qualquer
questionamento, pois prevalecia o acolhimento.
Fecho meus
olhos e posso te ver, linda, sempre vestindo as cores da tua natureza vibrante
e sempre externando a capacidade regeneradora de teu precioso interior de
reverendíssima senhora da proteção da vida e do belo.
27/09/1910 a
08/07/1972, período de vida e liberdade, onde foi possível a muitos desfrutarem
de tua preciosa existência terrena.
Obrigado
pela boneca, pelo teu sorriso amoroso e pela tua delicadeza em me apresentar a
vida, ensinando-me a buscar sempre o melhor e o mais bonito de cada
expressabilidade que ela apresenta, a cada instante, sem medo de ser feliz.
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