Ainda me
lembro, parece que foi ontem, mas lá se vão 42 anos, quando ainda pouco mais
que uma criança, ganhei a chance de ir trabalhar em um jornal chamado Diário de
Brasília, numa época dura de forte regime militar, sem conhecer nada a respeito
de jornalismo, publicidade e política, e para falar sinceramente, nem da vida
profissional, pois na realidade, minha única experiência, de apenas um ano,
fora a de professorinha primária aos 16 anos.
Mas bonitinha, simpática e muito desejosa de fazer mais pela minha vida, queria conhecer pessoas inteligentes e descoladas e que pudessem me ensinar o tanto que minha infinita curiosidade exigia.
E não foi que eu consegui logo na primeira entrevista! Não foi bem pelos meus méritos profissionais, afinal, eu não os tinha, mas pelos laços de amizade que a diretoria mantinha com o meu marido, mas pensei:
- E daí, não sei nada mesmo, vou tratar de agarrar e fazer bonito.
E acreditem, eu fiz e é muito bom lembrar as lutas que tive de travar para adquirir o bendito aprendizado em uma época e em um lugar, onde as mulheres eram apenas figurações pública e utilidade na cama e na mesa.
Coisa de louco, só mesmo para quem viveu esses pós anos dourados é que pode avaliar o quanto era difícil manter-se profissionalmente se não existissem grandes figuras humanas, capazes de prestarem atenção nas mulheres sem apenas ver nelas um pedaço de carne e delas extrair os seus melhores desempenhos.
Pois eu, também fui agraciada, não com um, mas com quatro desses homens, Ivo Borges de Lima, Geraldo Vasconcelos, Ricardo Fiuza e Roberto Couto, o meu já então, querido Tiãozinho, que generosamente sugaram de mim, o que nem eu mesma podia crer ser capaz e ainda um deles, logo nos primeiros meses, conseguiu fazer aflorar em mim o desejo de querer nunca mais sair de pertinho da comunicação, meio único que percebi que seria para mim uma visão ampla de todas as ciências e tecnologias, da fome e da violência, das conquistas e das derrotas, do luxo e do lixo que a humanidade é capaz de insistentemente criar e depois remediar.
Cada qual, nas suas especializações, ofereceram-me o melhor de si e meu Roberto, já cobra criada, foi meu esteio, meu tirador de dúvidas, o meu bendito dicionário da vida, onde pude contar com sua imensa paciência, sua poderosa capacidade em abrir espaço para que eu crescesse ao seu lado.
A partir daí, ao longo de minha vida, fosse doméstica ou profissional, sempre optei em não fechar as oportunidades aos sem experiência, e acreditem, raras foram às vezes em que me decepcionei, pois passei cercada de incríveis criaturas com as quais aprendi tudo que sei e já pude ter de material, e a elas, só posso agradecer.
Saber que muitas delas ainda existem me faz muito bem e para elas, mesmo à distância, envio a minha gratidão e gratidão acompanhada de um profundo muito obrigado, para cada uma delas que ao meu lado ficou, nos mais duros momentos de perdas e lágrimas e ingratidões, pois toda regra tem exceções que esquecem de como começaram, pois fazem da traição a tônica de suas passadas. Afinal, quem se esquece da mão que o tirou da obscuridade, jamais dividirá a luz dos refletores.
Rever vez por outra a própria trajetória, talvez seja, em minha opinião, o caminho mais seguro para se desenvolver o senso crítico geral, a partir de si mesmo, e a forma mais humanizada de nos tornarmos mais humildes e respeitosos, mesmo com aqueles que jamais souberam o quanto o senso de gratidão nos faz crescer e ser feliz.
Minha lista de generosos doadores é muito extensa, pois a cada dia, uma concha se abre e mais uma pérola surpreendente me é presenteada por esta vida bendita.
Que esta sexta-feira em que eu e você estamos vivos, nos traga generosas reflexões sobre este tema humano, hoje bastante banalizado, pela febre do ter sem mensurar o potencial do também ser.
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