Hoje, está completando dois dias que eu não escrevo uma
linha sequer, não que eu não queira, apenas não consigo, pois a cabeça está meio
oca, meu olhar meio perdido, meu ânimo meio que sem graça.
Então, teimosa como sempre, cá estou em um esforço supremo,
buscando explicações, quando pode ser tão somente, cansaço. Querendo
entendimento, talvez dentro de minha lógica pessoal, por ainda crer ser inadmissível,
passarem-se tantas horas sem que eu em minha solidão induzida, busque mil
coloridos ou alguns poucos instantâneos para então, registrá-los como de
costume para não deixar passar em branco, tantos instantes que, afinal, cansada
ou não, certamente foram vividos.
Descubro quase que aterrorizada que o meu problema todo é
gente, gente falando, gente brigando, gente disputando isto ou aquilo e, gente
como eu, querendo deixar de ser gente por instantes para tão somente ser, uma
rosa, um jasmim, um pássaro, um beija-flor, talvez uma gota de chuva, uma
aragem de brisa marinha ou um minúsculo grão de areia.
Penso, em uma dedução quase que primária, que estou
realmente cansada de estar em meio ao aparente quase tudo, precisando
urgentemente do aparente, quase nada.
O nada bendito do silêncio que me repousa, da solidão que me
abastece, da não obrigação que me regenera desta insana vontade que me acomete,
por alguns convívios diários que me
endoidecem, fazendo de mim por horas a fio, escudo, peneira do inútil do
desagradável.
Ai meu Deus, como estou cansada...
Ai meu Deus, como estou com o corpo doido... Como se um
trator desgovernado por cima de mim, tivesse passado, como se mil chibatadas me
tivessem dado, como se um grande vendaval de mim tivesse retirado, o tudo de
bom que me fornece inspiração.
Quem sabe o sono no silêncio solitário que me abriga, seja a
regeneração bendita de que necessito?
Quem sabe, o resgate
do sempre crer, mesmo que no imaginário, idealizando-me gente, vivendo em meio
a uma humanidade, traga de volta a minha veia poética, traga de volta, a
vontade de escrever, de sonhar e de
viver?
Nestes instantes em
que registro o meu, não escrever, constato com a alma dolorida, mas com a mente
esclarecida, que foram dois preciosos dias em que o tudo que me cercava,
miseravelmente, me transformou em um ser, absolutamente, pobre.
E enquanto descanso
ao som único de meus pássaros , penso em você em meio ao tudo que agora
lhe envolve, fazendo de você também um ser muito pobre, precisando como eu, tão
somente de uma pausa, um silêncio, um canto de pássaros e nada mais.