Já não se faz mais bandido como antigamente.
Ainda me lembro, sinceramente até com saudades, do tempo em que o Rio de Janeiro era dominado pelos bicheiros Anísio, Castor de Andrade e alguns poucos outros de menor status, cujos nomes não me recordo, até porque não atuavam na zona Sul, onde nasci e me criei.
Em cada esquina, infalivelmente, lá estavam um ou dois capangas, normalmente sentados em um banquinho de madeira, caneta na mão e bloquinho pequeno de papel, fazendo anotações do jogo do bicho, que os moradores de cada pedaço da rua, do bairro e da cidade não deixavam de fazer.
Mais que um vício, jogar era um hábito diário de qualquer dona de casa, fosse quem fosse na hierarquia social, se bem que a "madame" se servia dos empregados para não se expor ao vivo e a cores, mas que o apontador do bicho, como eram chamados, sabiam de cor e salteado de onde partia a "fézinha".
Normalmente, o apontador, capanga ou seja lá a extensão de suas atribuições, era alguém sempre querido nas redondezas, pois sempre gentis e simpáticos, eram os olheiros dos pais na vigilância de seus filhos nas brincadeiras de rua.
Guardiães das residências, pois durante seus horários de trabalho, vagabundo não se atrevia a aparecer.
Sempre respeitosos, jamais se ouviu falar em qualquer tipo de abuso de poder, mantinham só com suas presenças emblemáticas a paz que todos usufruiam e, por isto mesmo, conpensavam tais criaturas com mil agradinhos, que ia do café com pão quentinho logo pela manhã, ao almoço variado. No natal, me lembro, jamais eram esquecidos e por serem sempre os mesmos por anos a fio tornavam-se, de certa forma, parte integrante da vida de todos nós.
Bons tempos em que bandido pensava e se fazia respeitar, não apenas pelo que era capaz de destruir, mas principalmente pelo que era capaz de evitar. Conviver com um chefão era mais seguro que com a polícia, que, já naquela época, estava bastante desgastada, repleta de oficiais concorrendo com a bandidagem, mas nem mesmo eles eram capazes de desafiar o cerco de segurança que o chefão impunha em seu território.
Tempos bons, onde não me lembro de ter sentido medo.
Das janelas abertas e sem grades.
Das aventuras pitorescas logo depois do jantar, nas inesquecíveis corridas de submarino que a juventude desfrutava em toda a extensão da orla do Arpoador e Ipanema.
Das caminhadas solítárias que fazíamos até os clubes AABB, Monte Líbano e Caiçaras, na Lagoa Rodrigo de Freitas, para o banho de piscina, a ginástica, o volei ou o tenis que eu tanto adorava.
E as domingueiras que coloriam as tardes monôtonas de domingo, onde aprendi a gostar dos Holling Stones, de Roberto Carlos e da turma da Jovem Guarda.
Tudo era tão seguro e mágico.
Bons tempos, que foram sendo minados pela diversificação mafiosa dos negócios da bandidagem, direcionando interesses a um ganho mais expressivo, chamado DROGAS.
A partir daí, tudo foi mudando, ainda me lembro que no inicio dos anos 70, já não era possível encontrar-se com constância os tais empregados, sentados em seus banquinhos.
De repente, outros tipos aparecerem, usavam óculos escuros, as caras sempre fechadas e mais nenhuma conversa ou simpatia. Com estas criaturas, foram também chegando a indiferença, o silêncio e a violência.
A polícia descarou de vez, propinando nas esquinas aos olhos de qualquer um, na certeza da impunidade e no poder da coação. Chefões foram presos, depois assassinados, e o que antes era acordado, passou a ser cobrado com a posse e domínio, no aumento constante de atuação dos territórios.
Todas estas lembranças advém do fato de eu estar assistindo o mesmo filme outra vez, em proporções aparentemente mais lentas, menos volumosas, lêdo engano.
O território é pequeno e os marginais são muitos, assim como a natureza bandida já se forma calcada em uma competição um tanto burra, pois é gananciosa e sem amparo local.
Mafioso que se preza,cuida do seu rebanho, parede protetora, véu encobridor.
Não vai demorar muito para uns detonarem outros, pela esquina, pela praia, pelo beco, pela rua, igualzinho nas favelas, como bandidos de terceira.
Que saudades, meu Deus, do bandido de antigamente, que vestia terno e gravata e nem por isto fazia discurso e se elegia político, preferindo o status de poderoso chefão, cercado de todo um povo que lhe dava proteção.
Ah! que tristeza, meu Deus, pelo emburrecimento e por terem se tornado escória.
Lixo difícil de ser varrido, pois sem identificação, se tornam qualquer um, por todos os lados, em qualquer lugar.
Pois bandido que se preza, cria escolas e doa emoção, promovendo o seu território, se protegendo também.
Quem se lembra de Tenório, o homem da Capa Preta e da "Lourdinha", a mais famosa das sub-metralhadoras?
terça-feira, 22 de junho de 2010
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