Estou desde a madrugada, assistindo a canonização de Irmã
Dulce, buscando tão somente, conhecer um pouco mais o verdadeiro milagre que
continua a acontecer através de cada criatura que com algum tipo de sofrimento,
seja físico ou emocional, recebe em sua gigantesca obra, o devido acolhimento.
Tudo o mais é para mim como um teatro litúrgico, uma
cerimônia cênica que provoca muitas emoções, mas que só fazem sentido, se
direcionarem também, muitas reflexões.
Em dado momento, após a cerimônia, tomei conhecimento do
volume dos atendimentos, diários, mensais e anuais, não só no hospital como em
relação ao apoio às crianças em tempo integral, observando que nada falta em
ambas instituições para a realização de tão amplo trabalho de respeito a vida e
de repente, senti profunda tristeza com o tudo mais que venho assistindo e
presenciando ao longo de minha vida em relação a hipocrisia e desfaçatez que
permitimos consolidar-se em nosso sistema social/político, onde tudo se tem e
muito pouco pode ser realizado.
Pensei e comparei nossos hospitais públicos, nossas
universidades, nossas polícias, tanto civil como a militar, nossas instituições
públicas, nosso judiciário e o nosso tudo mais que emperrado pela burocracia e
a ladroagem de todas as naturezas, impedem que o brasileiro receba como retorno
dos impostos pagos, o devido respeito quanto ao atendimento de suas demandas
cotidianas.
Pensei de imediato naquelas pessoas que tudo possuem e pouco
produzem e que ainda defendem o indefensável e que aplaudem os abusivos de
plantão, oferecendo a eles, carta branca para as suas pífias atuações
administrativas e que, não satisfeitos, ainda agridem e afrontam todos aqueles,
que por se colocarem isentos das paixões partidárias, lutam nos seus cotidianos
nem sempre abastados, por um pouco mais de respeito para si e os demais.
As perguntas que deixo para que cada um responda são:
_Como uma instituição que atende milhares de pessoas por dia
sem que absolutamente nada falte a começar pelo abrangente acolhimento,
consegue esta proeza, apenas com os recursos do SUS e Doações, mesmo 30 anos
depois do falecimento de sua idealizadora e os gestores de todas as
instituições que vergonhosamente atuam em nosso país, excluindo-se as
raríssimas exceções, estão sempre a beira da falência e culpando este ou aquele
Governo, seja Municipal, Federal ou Estadual?
_Que epidemia é esta que assola a ética de todos nós,
impedindo-nos de enxergar o bendito bem comum, muito falado, mas pouco
compreendido?
Que humanidade frágil é esta que precisa de heróis capengas
que mentem, prometem, iludem e só oferecem migalhas como alimento e ilusão como
esperança?
Penso que mais que um símbolo de santidade, a sempre Irmã
Dulce dos pobres, seja um estímulo à conscientização da fraternidade, não apenas
esporádica e material, mas basicamente, como transformação de atitudes, onde o
Deus que buscamos nas igrejas, seja enxergado na vida, a partir de nós mesmos.
Um beijo no coração e um domingo de paz.
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