Nada como a paz de um domingo ensolarado em meio a este paraíso que é a
nossa Itaparica, para descansar a mente e deixa-la fluir, indo e vindo através
dos anos, décadas, buscando alguma semelhança a qualquer expressão de coerência
governamental e, inevitavelmente, perceber sem assombro, mas com uma dosagem
razoável de desânimo, que falamos mais que exercemos essa, que deveria ser a
bendita democracia.
Como se situar como um democrata fiel se sequer nos enxergamos como
cidadão, a não ser na defesa permanente do que chamamos ser nossos direitos,
mas que, na realidade, são apenas nossos interesses momentâneos, onde o coletivo
simplesmente não existe e, sem o senso do coletivo, não é possível compreender
a extensão da visão de bem comum e, sem ambos, simplesmente não existe
democracia, talvez um arremedo de script, mal escrito através de Constituições flexíveis,
juristas tendenciosos, legislativos precários e executivos aprisionados às
correntes pesadas e abusivas do poder econômico.
E ficamos nós, em sua maioria esmagadora (no que me incluo), a discutir
políticas sem delas nada entendermos nas suas complexidades e, mais uma vez,
comprando mercadorias de quinta, como em finais de feira, onde o preço (no
caso, nossas visões distorcidas), nos parecem mais adequados.
Se meu entendimento é como o lote de bananas e laranjas bem maduras a
ponto de apodrecerem, então, somos convencidos pelo esperto feirante que,
certamente, estamos fazendo um grande negócio.
Mas se somos da casta de compradores abastados, chegamos cedo,
escolhemos o melhor disponível, pagamos além do valor devido e deixamos as
sobras expostas no balcão à disposição da maioria, que até acredita que é feliz
por ter sobras para comprar.
Penso nas aposentadorias públicas e privadas, penso nas moradias (quando
existem), dos públicos e dos privados, penso nos salários, públicos e privados,
penso na saúde pública e privada, penso na infraestrutura pública e privada e
finalmente, penso na educação pública e privada, razão maior que possibilita
minhas ilações dominicais, mas que também frustra na conclusão final.
Que regime é esse que é exercido por um povo que sequer o conhece nos
seus mais básicos fundamentos?
Democracia que é exercitada pelo povo enaltecendo pessoas, quando
deveria controlar ações?
Democracia cuja Constituição fornece espaço para dois pesos e duas
medidas em qualquer de seus artigos, mesmo parecendo tão lógica e contundente?
Democracia em um país, onde o moral e a ética social foram soterradas,
dando um novo significado e direcionamento a mais sagrada de suas atribuições
que é a bendita liberdade de ser e de existir.
Democracia Tupiniquim, Constituição maleável, liberdade de tolos e
inconsequentes.
“Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e covardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
P’ra cobrir tanta infâmia e covardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!”…
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!”…
Navio negreiro
– Castro Alves.
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