A fome me
constrange, o sistema político, seja lá qual for, me constrange, a pessoa
humana indiferente à fome, me constrange, a hipocrisia do sistema social que a
disfarça, me constrange, conhecer a fome de minha cidade e país e, ainda, pedir
voto para candidatos, me constrange, exaltar celebridades de qualquer natureza social
ou política, me constrange, o apartheid humano visível em cada esquina, me
constrange, a gritante desigualdade, cujo abismo social deveria envergonhar
qualquer cidadão, me constrange, encarar a defesa dos ladrões do dinheiro
público, me constrange, abraçar qualquer outra causa se comparados à fome, se
torna irrelevante e me constrange, ter que ir obrigada às urnas nas eleições,
me constrange.
Este sempre
foi o meu grande questionamento pessoal, afora em época passada, aonde eu ainda
acreditava que seria possível um grupo político priorizar e mobilizar uma nação
na disposição da criação de mecanismos governamentais que extirpassem a fome e não
institucionaliza-la, criando uma nuvem traiçoeira, populista e enganadora para
disfarçar as intenções de suas contumazes ações de improbidade administrativa
que só induziu a mais e mais fome, estabelecendo a miséria moral que se
espalhou mais rápido que um rastilho de pólvora e que explode a cada instante
em todos os níveis sociais, destruindo os alicerces do pouco que ainda resistia
em meio à fome e a constante dispersão mental, que era o senso de limites de quaisquer
naturezas.
Entendo a
fome como expressão máxima da violência e sinto vergonha por ter de votar em
quem, de pronto, sei que nada, absolutamente nada fará para contê-la, evita-la
ou, finalmente, acabar com ela e com todas as mazelas que dela se originam, já
que é preciso que houvesse disposição dos políticos de um modo geral para que
se produzissem profundas e coerentes reformas políticas, sociais e
comportamentais, neste sistema corrompido que chamamos de “democracia
brasileira.
Como posso
não me constranger com uma democracia que não prioriza o seu povo, mas que
garante às castas específicas, acúmulos de privilégios em nome de leis e de uma
Constituição que não abraça a todos os cidadãos, apesar de se intitular “Constituição
Cidadã”?
Que Constituição
é esta em que o moral e a ética se moldam aos interesses, tão somente, de uma
parte da sociedade, segregando e ao mesmo tempo impingindo ao restante dos
cidadãos suas distorções?
Votar no
atual processo eleitoral, me constrange.
Nenhum comentário:
Postar um comentário