sábado, 22 de setembro de 2018

CONSTRANGIMENTO



A fome me constrange, o sistema político, seja lá qual for, me constrange, a pessoa humana indiferente à fome, me constrange, a hipocrisia do sistema social que a disfarça, me constrange, conhecer a fome de minha cidade e país e, ainda, pedir voto para candidatos, me constrange, exaltar celebridades de qualquer natureza social ou política, me constrange, o apartheid humano visível em cada esquina, me constrange, a gritante desigualdade, cujo abismo social deveria envergonhar qualquer cidadão, me constrange, encarar a defesa dos ladrões do dinheiro público, me constrange, abraçar qualquer outra causa se comparados à fome, se torna irrelevante e me constrange, ter que ir obrigada às urnas nas eleições, me constrange.
Este sempre foi o meu grande questionamento pessoal, afora em época passada, aonde eu ainda acreditava que seria possível um grupo político priorizar e mobilizar uma nação na disposição da criação de mecanismos governamentais que extirpassem a fome e não institucionaliza-la, criando uma nuvem traiçoeira, populista e enganadora para disfarçar as intenções de suas contumazes ações de improbidade administrativa que só induziu a mais e mais fome, estabelecendo a miséria moral que se espalhou mais rápido que um rastilho de pólvora e que explode a cada instante em todos os níveis sociais, destruindo os alicerces do pouco que ainda resistia em meio à fome e a constante dispersão mental, que era o senso de limites de quaisquer naturezas.
Entendo a fome como expressão máxima da violência e sinto vergonha por ter de votar em quem, de pronto, sei que nada, absolutamente nada fará para contê-la, evita-la ou, finalmente, acabar com ela e com todas as mazelas que dela se originam, já que é preciso que houvesse disposição dos políticos de um modo geral para que se produzissem profundas e coerentes reformas políticas, sociais e comportamentais, neste sistema corrompido que chamamos de “democracia brasileira.
Como posso não me constranger com uma democracia que não prioriza o seu povo, mas que garante às castas específicas, acúmulos de privilégios em nome de leis e de uma Constituição que não abraça a todos os cidadãos, apesar de se intitular “Constituição Cidadã”?
Que Constituição é esta em que o moral e a ética se moldam aos interesses, tão somente, de uma parte da sociedade, segregando e ao mesmo tempo impingindo ao restante dos cidadãos suas distorções?
Votar no atual processo eleitoral, me constrange.

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