quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Evidências irrefutáveis ...

Ler a revista Veja semanalmente se por um lado enriqueceu meus conhecimentos em determinadas áreas onde certamente eu não teria acesso por outros meios, principalmente nos últimos quase 20 anos, por outro, leva-me em muitas ocasiões a sentir um desolar imenso em relação ao meu país e a quase tudo que o envolve, principalmente no tocante a política e, mais precisamente, aos políticos, arrancando de mim, a cada edição, resquícios de ingênua esperança de que algo ou alguém deste meio não esteja envolvido em falcatruas.
Confesso que acabei criando um ranço de desconfiança, assim como uma pré-concebida avaliação quase generalizada que me causa, em determinadas situações, um enjôo real, por ser físico, que combato a duras penas, obrigando-me a subverter todas as informações recebidas e que, é claro, agem como indutoras cruéis, a fim de que minhas avaliações não sejam movidas ao primarismo da aceitação de um fato como verdade absoluta.
Entretanto, de uns anos para cá, percebo que as figuras envolvidas em escândalos são praticamente as mesmas em situações diversificadas, tão somente surfando entre corredores e gabinetes de ministérios, autarquias, secretarias ou de qualquer prédio que seja público, onde também surfam a corrupção e a impunidade.
Entre uma surfada e outra, vai se criando marolas de novos participantes de esquemas fraudulentos que já não se importam em ser denunciados, pois por conhecimento de amostragens de outros, por antecedência já sabem que, além de parar nos noticiários e de algumas idas e vindas ao Ministério Público, Polícia Federal ou alguns no Senado, nada mais vai lhes acontecer, isto posto, com raríssimas exceções, como no caso do pústula chamado Luiz Estevão (PMDB-DF), que teve mais de mil e trezentos imóveis arrestados pela AGU (Advocacia-Geral da União) e cujos aluguéis, dizem, estão sendo revertidos à união como ressarcimento das verbas roubadas nos anos 90, pelo descarado cidadão que posa de bacana desde o dia em que nasceu e que ainda é arrogante e desavergonhado o suficiente de estar tentando reavê-los e ainda inserí-los nos benefícios do Refis. Cabe ao TCU impedir este descalabro.
E aí, eu digo:
- Que coisa, heim?!
Enquanto leio, tentando tornar meus ouvidos imunes ao barulho constante e ensurdecedor dos carros de sons com suas músicas barangas e seus candidatos mais ainda, percebo uma voz conhecida, gritando da porta da loja:
- Bom Diaaa! Dona Regina, tudo bom com a senhora!!!!!
Era o Antônio de Porto Santo. Suado, visivelmente já cansado às dez da manhã, mas exibindo um sorriso franco e amigo, ostentando orgulhoso um enorme pacote de santinhos dos também meus candidatos.
- Quer um copo de água gelada, criatura?
- Não, obrigado, acabei de tomar um, ali.
- Cuidado, homem, o sol está de matar.
- Tô sentindo, mas fazer o quê dona Regina (deu de ombros, abanou a mão livre e desapareceu de meu campo de visão).
Tentei voltar a ler sobre o tal Luiz, mas senti muito nojo acompanhado de uma súbita revolta em pensar que os Antônios da vida, nada mais são que brasileiros sem rostos para esta corja de vagabundos que se amparam em um código penal benevolente, em uma justiça morosa, em líderes cada vez mais aliciados e em um povo, por sua vez , submissamente cruel que a tudo lê e assiste, mas tal qual o Antônio, diz:
Fazer o quê, Dona Regina?
Maldita herança escravagista que ainda corre em nossas veias, fazendo frontes se curvarem e dignidades serem pisadas.
E aí, tenho um amigo, também político, que costuma dizer que sou uma apaixonada pelas causas públicas. Talvez, eu o seja.
Mas também posso ser uma Regina da vida, brasileira que se sente sem rosto, afrontada e indignada frente a tantos horrores que não são devidamente cerceados pelos que deveriam agir mudando as interpretações das leis, mas que, ao contrário, em sua maioria se calam ou se omitem, escondendo assim suas covardias ou aliciamentos sob o véu da silenciosa cumplicidade.
Portanto, fazer o quê, não é mesmo Antônio?

Um comentário:

ESPLENDIDO GOZO

De onde surgiu o meu improviso, não sei precisar, mas, com certeza, sempre foi a minha mais autêntica realidade, custando-me em algumas ocas...