sexta-feira, 10 de setembro de 2010

APENAS EXISTINDO

Estou lendo novamente, "Discurso do Método", do filósofo René Descartes e, enquanto leio, ouço música suave e, vez por outra, paro minha leitura e escrevo algo, seja para um amigo querido, seja para este blog, onde certamente sou possuidora de muitos amigos virtuais que me prestigiam, tendo a generosidade em ler os meu escritos e comentá-los, oferecendo-me, assim, a chance inenarrável pelo seu potencial em aprender a cada dia mais um pouquinho e, tal qual Descartes, afirmo que, apesar de tantos aprendizados, constato a cada instante saber ainda muito pouco, quase nada.
Gosto de ficar comigo mesma na companhia de uma boa música que, certamente, me ajuda e muito a viajar mentalmente, pensando e recriando tudo quanto me parece pobre, buscando brechas onde eu possa colocar uma nova visão à respeito.
Adoro esmiuçar, seja lá o que for, para entender o princípio intencional da coisa.
Mas inegavelmente é o emocional humano que mais me aguça. E falar, pensar, estudar e, claro, esmiuçar o emocional, é para mim estar mergulhada na vida, buscando a sua essência maior.
E ainda não encontrei outra forma de fuçá-la, senão através da quietude pessoal, mesmo estando em meio à uma multidão, observando a tudo e a todos, decodificando posturas, expressões anatômicas, tons da voz, posicionamento dos olhos, etc, registrando-as em minha mente para então mais adiante, na quietude como agora me encontro, traçar paralelos, fazendo comparações, buscando coerências, explicações e razões.
Gostaria de afirmar que quase nada me escapa, mas não seria verdade, pois mais forte que minha tenacidade observatória é a capacidade humana em se camuflar.
O filósofo, não se forma em universidades, ele nasce um pensador, se assim não o for, corre o risco de ser um mero repetidor do pensamento alheio.
Ainda me lembro que garota, tipo 8 ou 10 anos, passava horas intermináveis literalmente sentada nas pedras, dentro do pequeno riacho que circundava nossa casa de campo em Guapimirim, à época um verdadeiro paraíso ecológico.
Nada mais me atraía que o som da cachoeira próxima, o verde exuberante da vegetação, os sons fantásticos que meus ouvidinhos infantis buscavam reconhecer e se familiarizar, fazendo deles parceiros que se tornaram eternos.
A tudo cheirava, lambia, abraçava, trocava ideias, questionava, além de fazer daquelas criaturas aparentemente diferentes de mim, confidentes de já meus medos e dúvidas.
Havia tanta harmonia em nosso relacionamento que jamais fui picada por um mosquito, mordida por cobra ou senti qualquer mal estar por tudo querer provar para sentir.
Questionava as piabinhas por todo o tempo, querendo entender o porque delas fazerem sempre o mesmo percurso, contornando as pedras, quando perfeitamente podiam passar por cima. Aborrecía-me por não conseguir alisar uma só que fosse, pois ariscas, passavam rente a mim, sem, no entanto, serem lentas para que eu as tocasse.
E como eu desejava e persistia em tocá-las com meus dedinhos amorosamente rápidos.
Jamais foi possível...
Guapi, foi minha primeira universidade, onde pude adentrar no mundo do conhecimento maior que é a vida em sua mais natural, mas nem por isso despretenciosa, expressabilidade. Disciplina à disciplina, fui me estruturando, alicerçando entendimentos que recebera na escola e na família, pude começar, a partir daí, a identificar diferenças e a escolher minhas afinidades sem tantas dúvidas ou tantos medos.
Fui compreendendo o prazer dos sabores, dos aromas, dos sons e, consequentemente, a definir em minhas posturas o desejo absoluto no qual, hoje reconheço, ter sido o meu guia, que foi permanecer por todo o tempo fiel a tudo quanto eu me identificasse, independentemente das aparentes perdas.
Esta minha primeira fase, encerrou-se aos l7 anos, quando então recém formada na universidade dos sentidos, parti para um doutorado da prática e nele permaneço até o momento, ciente de que não será nesta expressabilidade de vida terrena que concluirei tamanho aprendizado.
Neste instante, ouvindo o som de Glen Miller, penso no quanto ainda desejo descortinar em mim e com isto, ir mais fundo em meus entendimentos em relação a correlação das emoções pessoais com o universo em toda a sua potencialidade energética e no quanto pode dela utilizar-se como recurso primeiro e último de entendimentos existenciais, para poder-se, passo a passo, burilar amorosamente toda e qualquer convivência em que nós, criaturinhas humanas, estejamos inseridos.
Falando sobre tantas lembranças me é impossível, neste instante, deixar de sentir o cheiro dos gomos de jáca que tanto saboreei naquela universidade primeira, na qual me formei me sentindo verdadeiramente existindo.
Boa Noite e que a luz deste universo que nos envolve nos cubra a todos de paz.

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