domingo, 5 de setembro de 2010

APENAS VIVEM

E não é que novamente, pelo menos até o momento, a natureza, poderosa em suas decisões, resolveu mais uma vez contrariar os senhores da tecnologia e não choveu conforme o previsto.

Pois é, quem vai discutir com a senhora natureza, ainda mais de uns tempos para cá o mundo de um modo geral, através de nós humanos sabichões, tem sido cruel, desumano, mas acima de tudo imbecil ao subestimar seu poder e vontade?

Ora faz calor demais, ora chove absurdos, ora tudo se resseca, ora derretem-se as geleiras, ora cidades afundam lentamente, ora cidades estão sendo engolidas pelas areias, e por aí vai, e nós, criaturinhas ditas abençoadas por Deus e bonitas por natureza, também vamos em nossa permanente inconsequência fechando arrogantemente nossos sentidos, crendo de forma individual nenhuma responsabilidade nos caber, fazendo então vistas grossas ao nosso universo pessoal e nos deixando, por indução falsamente protetora, acreditar que o que acontece lá adiante não nos atingirá, e que a nossa participação nesta chacina ecológica não faz de nós cúmplices ativos neste crime hediondo.

E por falar em crime hediondo, penso então na política brasileira, se bem que as lá de fora não devem ser muito diferentes, talvez menos escrachada em países onde a educação do povo seja mais apurada, mas por aqui o negócio é feio, abusadamente inconsequente; mas quem liga para isso?

Tal qual na ecologia, cada qual, dentro de seu universo pessoal, não acredita que suas omissões enquanto povo das camadas privilegiadas, ou canalhices enquanto governam ou tiram vantagens, faça deles cúmplices da merda generalizada na qual o Brasil se encontra, se bem que devidamente maquiado com o guache colorido do engana trouxa em forma de crescimento, sem qualquer manutenção da já não tão resistente estrutura que em tempos anteriores foi sendo restaurada aos trancos e barrancos, tendo como oposicionistas ferrenhos os ditos do presente que alucinados tudo fizeram para se tornar ZELITE, mistura de Zé Povinho com elite, que nada mais é que a junção estereotipada da falta de instrução e muitas coisitas a mais com o dinheiro fácil.

E se a tudo isto, forem adicionadas a arrogância da ignorância e a insensatez da miséria, poder-se-á então constatar que, de um modo geral, assim como a natureza, aos poucos, já não tão lentamente, lá vão todas as lindas e adoráveis criaturinhas humanas se destruindo, seja na terra, no céu ou no mar, pensando, assim também espertamente, que não são diretamente responsáveis e que nada as atingirão, pelo menos diretamente.

Que coisa heim!

Esse me engana que eu gosto é simplesmente assustador quando decidimos parar para pensar a respeito, mas aí pensa-se assim:
- Pô Meu, não posso mudar o mundo, fazer o quê, preciso cuidar do meu quinhão.

Só que cuidar do quinhão pessoal virou sinônimo de cegueira e burrice, maldade e desrespeito, desacato ao bem comum, apropriação do direito alheio, engôdo à boa fé, canalhice generalizada, chacina das possíveis oportunidades de uma ainda camada imensa de humanos indevidamente gerados, incapacitados a existir como humanos e não como troncos ressequidos, águas poluídas, céus enfumaçados.

E aí, ontem, sentada em um projeto de poltrona do já decadente e absoleto ferry IPUAÇU, no retorno à Itaparica, fiquei, como sempre faço, observando aquelas criaturinhas, tentando imaginar qual a história de cada uma delas, naquele acotovelamento como se gados humanos fossem, a maioria sorrindo, felizes, comendo coxinhas e pastéis, carregando seus celulares, travesseiros, colchonetes e isopores, e me senti tôla, afinal, elas me pareceram felizes e é justamente por aí que o mundo se deteriora, pois não há qualquer, por mais remota que seja, conscientização de que já vivemos o caos existencial, sem pessimismos, apenas constatações reais.

E então, senti uma profunda inveja, pois enquanto penso, sofro e busco compreensões, aquelas criaturas simplesmente vivem.

Pedi então um sorvete, mirei meus olhos no mar e também simplesmente vivi, fingindo que não esperimentava mais uma realidade DANTESCA de viajar mal sentada e, portanto, pessimamente acomodada em um arremedo de poltrona, retornando ao que deveria ser o paraíso, mas que na realidade é mais um local cercado de água por todos os lados e já devastado em sua grandeza ecológica, já poluído em sua grandeza humana.

Que pena, meu Deus!

DEUS!?

E então, lembro-me de Castro Alves.

- Onde estás, que não te vejo?

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