Hoje, amanheci absolutamente feliz, achando graça de tudo, até mesmo, do trinco velho da janela do meu quarto que emperrou, impedindo-me de olhar através dela, o verde que me fascina a cada amanhecer.
Antes deste acontecimento, saindo da cama, ao pisar no chão, senti um repuxo doloroso na panturrilha da perna esquerda, o que me obrigou a sentar novamente na beirada da cama, arrancando de mim um sorriso conformado, enquanto, a mente pensava: “velhice tem destas coisas”...
Putz grila...
E pensar que ainda tem gente que se surpreende, quando, abusando da minha espontaneidade, afirmo que “velhice é uma merda.”
Penso então, que ao longo da vida, precisei conviver sem tréguas com infinitas formas de merdas, desde as inevitáveis decepções, até, mesmo, com um constante eu ter que ir, quando eu queria ficar, portanto, esta realidade com a qual, venho convivendo e não é de hoje, já que, sobrevivi a maioria de minha época, é apenas, mais uma, apesar de ser, espero, a derradeira.
Por outro lado, estou murchando como um maracujá maduro, também como ele, a cada dia me percebo menos ácida, mais gostosa e de fácil saboreio e adaptação, deixando as mousses das convivências, mais cremosas, assim como as Vodcas, se tornam infinitamente mais especiais, quando, da adição deste suco afrodisíaco com bastante gelo, e que, ao deslizarem garganta a baixo em pequenos goles, sem qualquer pressa, imagino ser, como visitar o céu...
Jesus toma conta!!!!
Acordei, definitivamente me achando uma delícia e esse é um privilégio de quem, aceita sorrindo a natural decadência, oferecida pela merda da velhice, sem deixar que ela, tire o frescor de uma mente que se encontra, finalmente em paz, usufruindo a oportunidade da plenitude de se sentir existindo.
Afinal, estamos vivos, uns, já vivenciando a merda da velhice, mas lambendo sorridente o que ainda sobra, enquanto, outros, fingem que ela, não chegará jamais...
Bom dia, com as merdas e as delícias da sempre encantadora vida.
Regina Carvalho 4.9.2024 Itaparica
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