Não pedimos para nascer, mas ainda assim, somos concebidos sem sequer podermos escolher a nossa base afetiva.
Adoramos a liberdade da infância, mas a adolescência nos chega, exibindo sinais despudorados em nossos físicos e emoções, despertando-nos a vergonha pelo que deveria permanecer, como tão somente, natural.
Neste percurso de um processo sem licenças prévias, somos banhados e alimentados em mares, rios e pastagens de outros, não necessariamente afins a nós, e numa passagem do tempo, que sequer percebemos, tornamo-nos, “dizem”, adultos, precisando fazer escolhas para um futuro que nos parece infinitamente, longínquo sem que saibamos exatamente, quem somos e o que estamos fazendo por aqui.
Essa equação não pedimos e sequer pensamos em formular, mas ainda assim, como o tudo mais, nos é apresentada e imposta, sem direito a qualquer recusa e aí, tudo que nos resta é a largamos explicitamente ou a pegarmos como uma mala pesada de difícil transporte.
Em sua maioria, arrastamo-la vida afora pelo caminho, tropeçando, saltando, contornando num esforço continuado de tão somente, sobreviver, sem mesmo saber o porquê, aprendendo a resolver uma questão matemática cuja lógica, nem sempre faz lógica para quem, sequer teve a bendita opção de querê-la.
E nesta trilha sem bússola com qualquer segura precisão, ainda tenho a “pachorra” em afirmar neste texto e nos tantos outros que já escrevi vida afora, que tudo é simples assim?
Qual nada...
Afinal, nada pedi e tudo me foi dado a minha reveria, cabendo-me por todo o tempo, arrastar a bagagem pesada e ainda, não só apresentá-la tal qual, me foi entregue, como reconhece-la como legítima no interminável tribunal das consequências.
Aonde reside simplicidade em tudo isso?
Daí, prezada dona Regina, num questionamento de consciência que teimosa a senhora insiste também em afirmar, que só há, uma alternativa para aliviar-se este processo que é e o de seguir a diante, de forma mais equilibrada e justa neste processo onde se foi incluso, à revelia da própria essência.
Portanto, o mínimo que se deva oferecer, aos primeiros despertares sensoriais de quem nada pediu, pelo menos a opção de tentar reconhecer os recursos dos quais, poderá se amparar ao longo de um processo repleto de constantes desafios e que poderá ser encerrado com um bater do martelo de um Juiz, aí sim, também a nossa revelia, Juiz este, até então, pela maioria muito falado, temido, exaltado, mas absolutamente desconhecido a luz da realidade individual, justo, por ter sido imposto ou apenas buscado na dor.
Quando penso e insisto no “simples assim”, refiro-me ao fato da incrível descoberta que me foi oferecida ainda criança e que esteve por todo o tempo presente em mim, como a única opção, capaz de descortinar-me todas as inimagináveis outras, através, das formas, texturas, sons, cores e sabores, deste processo complexo que é viver.
Opções, acabei por tê-las nas escolhas, sem transferência de culpas e assim, sendo-as minhas, permitiram-me acertar ou errar transformando em semeaduras de experiências calcadas e modeladas na autêntica liberdade de me sentir existindo e sendo, também estruturada para pagar ou receber todas as inerentes consequências.
Este texto, foi escrito pensando nas minhas opções, feitas ao longo da vida, sem qualquer inserção que me fosse imposta à revelia.
Amigos, acreditem, houveram e sempre haverá momentos difíceis, mas todos valerão cada milionésimo de segundo que eu possa desfrutar desta vida que me chegou à revelia, mas que felizmente, me ensinaram a agarra-la pelo chifre, tendo como referência maior o simbolismo, chamado “jesus” para fazer valer a liberdade em ser a senhora de uma própria, intransferível e fascinante vida, que pode até, ter me chegado à revelia, mas que jamais poderia ser justificada pelos apenas, acasos sistêmicos culturais e religiosos, mantendo-me como uma passageira num barco chamado “circunstância”, numa apenas, medíocre sobrevivência...
Regina Carvalho – 5.9.2024 Itaparica
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