Reflito sobre a
fantástica certeza de estar viva e poder sentir o cheiro meio que azedinho das
muitas mangas rosas que, de tão pesadas e maduras, caíram e se esborracharam no
jardim e que, em seu processo natural de decomposição, fertilizam o solo.
Aproveito que mais
uma vez tenho o privilégio de acordar e constatar o fantástico fato de estar
viva e, então, respiro fundo, pois sei que existem mil outros aromas para serem
sorvidos pelos meus sentidos e, é claro, que não posso, não devo e não quero
ficar fora deste processo de integração com a vida, pois na inconsequência da
vida cotidiana, algumas vezes, deixei para depois, sem que houvesse qualquer
indicação real que haveria um depois.
Pois é....
Enquanto respiro e
penso em tudo isto, diante de minha mente sempre muito preocupada com a
fundamentação de suas próprias constatações ou mesmo divagações, faz desfilar
em ritmo acelerado milhares de cenas por mim vividas, dando vez por outra,
pausas convenientes, para que eu possa, então, visualizar as inúmeras vezes em
que deixei de expressar meus sentimentos fosse com palavras, pensamentos ou
ações.
Sinto-me
absurdamente chocada com a minha própria alienação em não ter percebido em
alguns momentos a importância dos instantes presentes e oferecer a eles o
melhor e mais autêntico de mim, pois afinal, só isto permanecerá, seja nas
lembranças dos que me cercam, seja nas vibrações energéticas que movem a vida
do todo universal.
Nossa, Regina!...
Hoje é apenas mais
uma terça-feira que sequer amanheceu totalmente e você já está filosofando
sobre o universo e o escambau?
Me poupe, pelo amor
de Deus!!!
Está é a voz que
ouço e que sempre sorrateira e inoportuna, tenta, e algumas vezes consegue,
tirar-me do rumo, e daí, as pausas que minha mente amiga acabou de me oferecer,
talvez, creio eu, em forma de lembrete urgente, para que eu não esqueça o que
perdi e dos riscos bobos que corri adiando para depois, sentimentos e emoções
que eram únicas, em não dizer por exemplo que amava, estava triste ou chateada
com alguém ou com alguma situação, de não expressar minha revolta, meus medos e
minhas aflições, de não sorrir, abraçar e beijar tudo quanto me agradava e me
fazia naquele instante, feliz.
E aí, penso na
morte, nas lágrimas e penso nas também muitas ocasiões em que mesmo tendo a voz
safada querendo me impedir de transparecer meus sentimentos, resisti e me
entreguei, doando-me sem restrições, mesmo diante da incompreensão de alguns.
Respiro fundo e de
verdade posso identificar se não muitos, pelo menos aqueles aromas benditos que
me fazem pensar na vida e na gratidão por tê-la nesta terça-feira, que já dá
sinais de que vai ser ensolarada nesta minha adorada Itaparica que eu não deixo
de exaltar a cada instante presente, porque afinal, se não houver um depois,
certamente a terei curtido e saboreado com a boca e a alma alegres, como farei
agora com uma das mangas que percebo estar lá, em meio a tantas outras, apenas
me convidando a ser feliz.
Que no dia de hoje,
todos nós possamos desnudar as nossas almas, expressando os nossos sentimentos,
fazendo da vida régua e compasso para um delinear mais preciso, de amor e
liberdade.
Porque, afinal,
pode não haver um depois...
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