Há quem faça de sua vida mil objetivos e a eles se dedique de corpo e alma, mas eu, desde sempre só tive em mente, amar o tudo que me era possível enxergar, sentir, tocar ou simplesmente, imaginar, e neste quesito sempre fui muito imaginativa, buscando na natureza que sempre esteve presente na minha vida, todos os subsídios necessários para me manter abastecida.
Ainda me
lembro do portão pintado de verde do quintal de minha casa, que transformei em
minha lousa e com ele, fui capaz de arregimentar infinitas plateias de um público
imaginário que acompanharam as muitas etapas de minha infância e até mesmo,
parte de minha adolescência, servindo-me de parceiros ativos, no
desenvolvimento de minha sempre paixão pelas letras e pelo caminho das artes.
Jamais
pensei em ser outra coisa, além de artista, no bico da pena, nos palcos da vida
ou nas telas, pincelando os meus sonhos.
E eu
exercitei muito e quando, finalmente estreei, assustei-me com um público real e
pouco ortodoxo que de verdade, só queria passar um tempo de lazer, bem
diferente de meu fiel público que era exigente e que só aplaudia frente a
qualidade da apresentação.
E de
aprendiz de artista, transformei-me num apenas interessante comercial sem alcance,
cujo brilho da mensagem, se perdia ofuscado pelas constantes decepções.
Não me dei
por vencida e logo, busquei meu velho texto que pelo menos sempre me deu a chance
de poder prender a atenção de um público menos efêmero e fiz dele, o texto de
todas as demais representações de minha vida, onde sequer precisei decorá-lo,
pois fora escrito com os meus mais profundos sentimentos e emoções.
Meu texto
original, só declamava amor e quem poderia de sã consciência, recusar o amor,
quando muito, encostá-lo como uma peça quase inútil as suas mais básicas
necessidades do aqui e agora, mas jogá-lo fora, só os muito insensatos seriam
capazes, afinal, um amor sempre pode ser útil, principalmente, numa hora de
profundo cansaço, desilusão ou dor.
E assim, transformei
cada página, cada lauda em versos de amor e em textos de vida e liberdade, onde
como artista me apresentava sem bilheteria e sem propagandas, ficando a mercê,
tão somente, dos também ávidos de amor, que despudoradamente, corriam ruas e
avenidas em busca do encontro lírico e salvador de um simples e descompromissado
poema de amor.
E hoje,
depois de infinitas representações, ainda me vejo no palco, com o natural
cansaço de um final de carreira, mas ainda ávida em representar o velho texto
que o tempo, não foi capaz de desbotar e o meu público incapaz de me abandonar,
adicionando a cada nova apresentação, novos rostos, novas mãos, dispostas a me
aplaudir.
Penso então,
que bendito poema texto, fui capaz de escrever ainda menina, na lousa
improvisada de meu quintal de sonhos e ilusões.
E ao som de uma deliciosa canção clássica que define quem eu
sou, inicio a minha apresentação do espetáculo de hoje, esperando que em cada
coração que venha me aplaudir, possa receber uma gota de todo este amor que cultivei
em mim.
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