São quatro e trinta da manhã e lá fora, tudo ainda muito escurinho e sequer um só pássaro para me dar bom dia, resta-me então, na solidão deste amanhecer, contentar-me com respirares profundos, trazendo para o meu interior as delícias desta miscelânea de aromas deliciosos, bem próprios do verão, bem próprios de lugares como a nossa linda Itaparica, aonde ainda é possível, vivenciar por todo o tempo, parte da natureza em sua resistente permanência.
Geralmente é
assim que acontece em meus amanheceres, quando muito apressada em vivenciar
tudo a que tenho direito, acordo antes até mesmo dos galos da redondeza.
Mas o que
fazer se sempre tive pressa, apesar de também sempre ter sido considerada uma “paradona”,
já que dificilmente ao longo de minha vida, fui vista em festas ou aglomerações
de qualquer natureza, afora, nos momentos eleitorais em minha Itaparica, onde
subir num trio elétrico ou num palanque, sempre foi mais forte que minha
aversão a qualquer muvuca social.
Adoro,
simplesmente adoro todo o movimento eleitoral de discursos, caminhadas,
visitações, lives e toda e qualquer parafernália usada nas campanhas, afinal,
essa paixão foi por mim descoberta, bem aqui, nesta cidade bendita na campanha
de 2008, quando pela primeira vez, subi triunfante num trio elétrico e não
satisfeita, ainda aceitei que me colocassem por sobre um caixote, discursando e
segurando um microfone por toda a extensão da avenida, tendo os amigos Delcinho
de um lado e Claudio Neves do outro, segurando respectivamente minhas pernas
para que eu, não desabasse como uma fruta madura por sobre o calçamento.
Delícia meu
Deus, até neste recordar!!!!!
De repente,
a senhora discreta, voltada aos poemas e editoriais do Jornal Variedades,
transformou-se numa apenas garota sapeca, sorvendo a vida em toda a sua
plenitude.
E aí,
lembrando deste momento glorioso de minha permanência por estas bandas
nordestinas, desvio o olhar e busco, através da janela, ainda frente a escuridão,
encontrar os passarinhos que já estão chegando com suas contorias, nem sempre
compassadas, pois, ultimamente, tenho reparado que disputam com muita arruaça o
protagonismo nesta orquestra divina de cada amanhecer.
Pois é... Não
lamento minha pressa em começar novos amanheceres, pois só assim, enxergo, ouço
e sinto o sempre inusitado se mostrando só para mim, neste cantinho do mundo,
onde a poesia ainda reside e pode ser reconhecida através da sensibilidade que somos
capazes de desenvolver em nós.
Simples assim?
Não, tudo é
uma questão de hábito e este, exige tempo, disciplina e muita determinação, como
aliás, o tudo mais que vale ser degustado nesta caminhada existencial.
E eu, já
provei que sou boa em perseverar em favor da minha vez, seja lá no que for.
Começou a
clarear e entre os galhos fartos e pesados de minha mangueira e a do vizinho,
de onde estou, já posso apreciar esta bendita sexta-feira amanhecendo e
tonalizando o céu de um azul ainda bem escuro, me fazendo sorrir, até porque,
lá está o meu sabiá, arisco e barulhento como ele só, já buscando alimentos na
amoreira para os seus filhotes, cujo ninho ele formou em uma das colunas de
minha varanda, para o meu deleite e satisfação, mesmo que como um inquilino
abusado, tenha me expulsado de meu balanço, fazendo cocô em mim, na braveza da
proteção de seu território.
Como não obedecer
às ordens deste lindo meu coronel de asas e sem patente, mas muito senhor de
mim?
Neste
instante, chove fino lá fora ...
É a vida se
regando...
Acordem
cedo, pelo amor de Deus, tenham pressa como eu.
Venham
sorver a vida despudoradamente, se alimentando e se permitindo ser feliz.
São
exatamente, cinco horas e doze minutos e a vida, já está em festa e eu,
sorrindo lhe desejo tudo de bom, neste novo dia que ora se anuncia.
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