sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

UM NOVO DIA

 

                         

São quatro e trinta da manhã e lá fora, tudo ainda muito escurinho e sequer um só pássaro para me dar bom dia, resta-me então, na solidão deste amanhecer, contentar-me com respirares profundos, trazendo para o meu interior as delícias desta miscelânea de aromas deliciosos, bem próprios do verão, bem próprios de lugares como a nossa linda Itaparica, aonde ainda é possível, vivenciar por todo o tempo, parte da natureza em sua resistente permanência.

Geralmente é assim que acontece em meus amanheceres, quando muito apressada em vivenciar tudo a que tenho direito, acordo antes até mesmo dos galos da redondeza.

Mas o que fazer se sempre tive pressa, apesar de também sempre ter sido considerada uma “paradona”, já que dificilmente ao longo de minha vida, fui vista em festas ou aglomerações de qualquer natureza, afora, nos momentos eleitorais em minha Itaparica, onde subir num trio elétrico ou num palanque, sempre foi mais forte que minha aversão a qualquer muvuca social.

Adoro, simplesmente adoro todo o movimento eleitoral de discursos, caminhadas, visitações, lives e toda e qualquer parafernália usada nas campanhas, afinal, essa paixão foi por mim descoberta, bem aqui, nesta cidade bendita na campanha de 2008, quando pela primeira vez, subi triunfante num trio elétrico e não satisfeita, ainda aceitei que me colocassem por sobre um caixote, discursando e segurando um microfone por toda a extensão da avenida, tendo os amigos Delcinho de um lado e Claudio Neves do outro, segurando respectivamente minhas pernas para que eu, não desabasse como uma fruta madura por sobre o calçamento.

Delícia meu Deus, até neste recordar!!!!!

De repente, a senhora discreta, voltada aos poemas e editoriais do Jornal Variedades, transformou-se numa apenas garota sapeca, sorvendo a vida em toda a sua plenitude.

E aí, lembrando deste momento glorioso de minha permanência por estas bandas nordestinas, desvio o olhar e busco, através da janela, ainda frente a escuridão, encontrar os passarinhos que já estão chegando com suas contorias, nem sempre compassadas, pois, ultimamente, tenho reparado que disputam com muita arruaça o protagonismo nesta orquestra divina de cada amanhecer.

Pois é... Não lamento minha pressa em começar novos amanheceres, pois só assim, enxergo, ouço e sinto o sempre inusitado se mostrando só para mim, neste cantinho do mundo, onde a poesia ainda reside e pode ser reconhecida através da sensibilidade que somos capazes de desenvolver em nós.

Simples assim?

Não, tudo é uma questão de hábito e este, exige tempo, disciplina e muita determinação, como aliás, o tudo mais que vale ser degustado nesta caminhada existencial.

E eu, já provei que sou boa em perseverar em favor da minha vez, seja lá no que for.

Começou a clarear e entre os galhos fartos e pesados de minha mangueira e a do vizinho, de onde estou, já posso apreciar esta bendita sexta-feira amanhecendo e tonalizando o céu de um azul ainda bem escuro, me fazendo sorrir, até porque, lá está o meu sabiá, arisco e barulhento como ele só, já buscando alimentos na amoreira para os seus filhotes, cujo ninho ele formou em uma das colunas de minha varanda, para o meu deleite e satisfação, mesmo que como um inquilino abusado, tenha me expulsado de meu balanço, fazendo cocô em mim, na braveza da proteção de seu território.

Como não obedecer às ordens deste lindo meu coronel de asas e sem patente, mas muito senhor de mim?

Neste instante, chove fino lá fora ...

É a vida se regando...

Acordem cedo, pelo amor de Deus, tenham pressa como eu.

Venham sorver a vida despudoradamente, se alimentando e se permitindo ser feliz.

São exatamente, cinco horas e doze minutos e a vida, já está em festa e eu, sorrindo lhe desejo tudo de bom, neste novo dia que ora se anuncia.

 

 

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