Dentre as minhas preferências clássicas, certamente Frédéric François Chopin, está em primeiro lugar, provavelmente porque tenha direcionado suas composições para o piano, instrumento que amo e que me faz muito bem ouvir, enquanto escrevo.
Suas músicas se bem atentos estiverem os ouvidos, nos levam a dançar mentalmente, portanto, escrevendo, deixo minhas ideias bailarem ao gosto dos acordes musicais.
Nesse instante, ouço “nocturnes” e me deleito na suavidade das teclas do piano e do virtuose que o manipula tão encantadoramente, levando-me a pensar que nasci de alguma forma na época e no local errado, se isso é possível de ser questionado ou talvez, minha memória energética seja absolutamente contaminada pela elegância dos movimentos de uma era europeia em que eu desfilava por amplos jardins nos finais de tarde, sentindo os aromas de mais um dia que se findava, ao som dos pássaros vindo tão somente, para me oferecerem boa noite e eu, na postura suave de uma singela dama, singrasse por sobre o gramado, deixando apenas como rastro, um leve afundar do pés.
Então, faço pausa na escrita e olho através da janela e, apesar de toda beleza que consigo enxergar na rusticidade não menos encantador de meu jardim, o sol majestoso expõe-se no dia de hoje, singelamente delicado, matizando a copa de minha frondosa mangueira e da ainda jovem amoreira, também insinuando-se a mim, num namoro diário de paixão contida com apenas, carícias de intenções que, são capazes de me transportar ao olimpo do prazer de me sentir acolhida e profundamente amada.
Ouvindo “nocturnes” de chopin, posso ser muito mais que tão somente, uma pessoa capaz de amar e ser amada, pois, sinto-me parte destes raios solares que me abraçam virtualmente, numa posse integral de afinidades, gostos e paladares, jamais quebrando a delicadeza deste pote encantado de um amor maior, comumente oferecido pelas costumeiras manipulações das músicas modernas.
A melodia de “nocturnes” induz, favorecendo um bailado leve que percorre todo o externo e interno, meu e do ser amado, com um apenas longo olhar de posse suave, que apenas se apresenta na delicadeza dos toques harmoniosos de uma busca, finalmente encontrada.
“Nocturnes” expressa o ideal da identificação dos elementos da natureza, desenhando virtualmente os movimentos sensuais de uma interação mais que física por ser emocional, rasgando fio a fio, a expeça resistência que reside em todos nós, brutalizando-nos ao ponto de nos fazer esquecer, o quanto somos capazes de oferecer e automaticamente receber de amor, tão somente, com um olhar, um pequeno gesto, um simples beijo, um espontâneo sorriso.
Ouvi “nocturnes” quase todos os dias de minha vida, na busca de não permitir que o lugar comum, tirasse de mim, o toque suave de um acorde verdadeiramente agregador, transformando Chopin, num amigo secreto, capaz de extrair de mim, infinitas emoções que deito nas páginas de todos os ensaios, crônicas, poemas ou artigos que já escrevi, nesta minha longa vida, onde para mim terá sido sempre breve, onde como um piano, sempre tive a dedilhar-me talentosos pianistas e incríveis compositores que em parceria comigo, exercitaram a delicadeza do amor maior.
Um amor, rodeado de borboletas e sabiás, capazes de fazerem morada fixa e duradoura, na alma desta, apenas mulher.
E então, nunca hei de me importar com as cercas elétricas que supostamente me protegem, tudo porque, minhas grades e alarmes se encontram na liberdade amorosa que fui formatando em mim, como uma rede protetora do o sol, da chuva, dos beija-flores, frutos e flores, que em mim, sempre fizeram morada, independentemente de onde eu estivesse e, quanta dor pudesse estar sentindo, pois sempre resguardaram a segurança da leveza de minha alma e com seus resistentes véus invisíveis, assim como uma fortaleza, protegeram os muitos Palácios das Borboletas, lugares encantados, aonde só o bem foi capaz de adentar.
Bendita poesia contida nas mentes dos virtuoses da música erudita.
Bendita sensibilidade que me faz interpretá-la, com a suprema fidelidade às minhas afinidades.
Bendita alegria por simplesmente reconhecer e poder curvar-me em gratidão, pelos acordes bem dedilhados dos meus amorosos pianistas.
Penso inexoravelmente em Deus e no quanto, me cobre de bênçãos por poder enxerga-lo, mas acima de tudo, poder senti-lo num sentimento de amor e compará-lo a grandeza de uma prima.
Que sábado lindo!!!
Que beleza de existência me foi oferecida!
Que baú de riquezas, meu amado Deus, o senhor reservou em mim...
Gratidão te ofereço ao som de “nocturnes” de Chopin.
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