Quero
escrever, mas estou me sentindo estranha, aérea e sem foco, provavelmente porque
estou fora do meu habitual reduto e, ao mesmo tempo, assimilando novas emoções.
A cabeça se
recusa a pensar mais que o suficiente para ir vivendo o dia; e esta sensação de
distanciamento do tudo mais, não é inédita em minha vida, mas também, jamais
foi constante, daí esta sensação que chamo de “esquisita”.
Esquisita
também é esta situação em que todos nós nos encontramos em meio a esta Pandemia
mortífera, porém, o comportamento humano parece-me a cada instante mais
desconectado da realidade que se apresenta.
Olho para os
canais de TV e tudo continua exatamente como dantes, afinal, Bolsonaro e seus contínuos
deslizes são o foco principal, depois, bem depois, vem qualquer interesse maior
sobre a Pandemia, além de mostrar o número de mortos e a inconsequência das
pessoas, como se, precisar trabalhar, enfrentando ônibus, trens e metrôs
lotados, fossem seus sonhos de consumo.
Nas redes
sociais, observem que as pessoas estão menos participantes, talvez como eu,
também enfaradas de ouvir as mesmices de sempre. Volta Lula, Fora Bolsonaro,
como se nada mais importasse que falar em uma democracia que sequer sabem como
verdadeiramente deveria ser, afinal, num país, onde o povo desconhece a própria
cidadania, falar que defende a democracia é surreal.
Depois, a
mídia em geral, mostra os inconsequentes que vão caminhar nas orlas, mergulhar
nas praias, ir ao shopping com a família e até mesmo a uma carreata política,
esquecendo e nos fazendo querer esquecer que o responsável por tudo isso é tão
somente o sistema hipócrita que todos nós estamos inseridos e que nós mesmos
criamos e alimentamos com a nossa sempre presente estupidez.
Penso em mim
e me vejo viajando em plena pandemia. Logo eu, que faço parte do “grupo de
risco”, senhora sensata e de bons costumes.
Mas aí, justifico-me
pensando no meu dia a dia e nos riscos que corro e que não são menores, além de
que ninguém de verdade tem consciência, como ir ao supermercado, por exemplo,
ou sentir-me solitária e depressiva por estar isolada sem calor humano que me
estimule e me faça bem, justo nesta idade onde as carências afloram mais
sensivelmente.
Putz, os
filmes estão velhos, precisando de renovação na Netflix, a globo é aquela
chatice repetitiva de fora Bolsonaro, de catar cada espirro do capitão e fazendo
dele uma tempestade, enquanto de um modo geral, o país está andando sem maiores
atropelos.
Os outros
canais, nos mancham por todo o tempo com o sangue das desgraceiras urbanas; e
as novelas, meu Deus, sem comentários.
E fora isso,
ainda estamos às vésperas das eleições, onde, de todas as tocas deste país de
meu Deus, surgem os coelhos salvadores, fazendo mil promessas que raramente
cumprem se eleitos.
Então, só
mesmo correndo mais um risco ao buscar um ar fresco, para não sucumbir ao tédio,
afinal, se faço parte do grupo de risco, preciso me cuidar.
Talvez eu
esteja de saco cheio e enfarada da dissimulação social, coisas da idade, não é
mesmo, jovens descolados?