quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

EU QUERIA SER...



Estou aqui pensando qual mecanismo é este mental que possuo que, ainda sonolenta em meio às madrugadas, começo a digitar em minha mente tudo quanto mais adiante começo a escrever. Em algumas ocasiões, preciso levantar-me rapidamente, pois as palavras agitadas parecem que vão explodir para fora de meu corpo. Uma verdadeira loucura é o que vivencio na maioria de minhas manhãs, digo, madrugadas, de que sou capaz de me lembrar.
Hoje, a profusão foi tão expressiva que, por instantes, fui mais forte que a enxurrada de palavras e pensei: por que não consigo ser uma romancista, novelista, biógrafa, poeta ou simplesmente uma contadora de histórias?
Por que preciso por todo o tempo ser uma cronista, comentarista do cotidiano, perfurando por todo o tempo as vísceras das hipocrisias sistêmicas, expondo o que a maioria finge não enxergar?
Escrita cruel, que obriga a quem me lê, a rever seus próprios conceitos e, às vezes, reconheço que pego tão pesado que mesmo reconhecendo que estou próxima de sua própria realidade, me nega  e me odeia, porque, afinal, quem me deu esse direito de adentrar em seu conforto mental, para com algumas palavras, desnudar- lhe a alma?
Se tenho o dom de agrupar palavras, por que não fazer delas uma viagem ilusória, onde em um só texto, o leitor possa se transportar para um mundo de aventuras?
Penso que iriam me amar, pois seria o meio seguro de por momentos transportá-los para um mundo que eles gostariam que fosse real, daí, o sucesso das novelas, que prende por exatamente uma hora diária, as mentes e as emoções de quem as assistem, podendo de quando em quando, escolherem ou serem escolhidos para representar do conforto da poltrona um novo personagem, sem o perigo de não mais deles poderem se livrar, como acontece ao lerem um texto escrito por mim, donde nunca mais poderão tirar de sua mente, pois delas, sorrateiramente me apropriei, mesmo, nunca tendo-os visto ou conversado com eles.
É que apesar de sermos diferentes e basicamente únicos, somos muito parecidos nas ações e reações, pois somos resultado de um mesmo sistema humano que se difere tão somente em relação as culturas de origem, mas que no frigir dos ovos, somos tais como figuras de um variado conto, onde cada personagem só deseja ser feliz.
Essa é a mesma fórmula empregada para todo e qualquer agrupador de letras, formador de palavras, escrevinhador das almas, poetas das palavras, seja lá a nomenclatura que se queira dar, pois na realidade, existem apenas os apontadores da existência terrena ou cósmica, que optam em focá-las em suas mais variadas formas, colocando nelas, as suas próprias formas de senti-las e enxerga-las.
 Eu gostaria de ser uma vendedora de ilusões, escrevendo em verde e rosa sobre esse cotidiano, preto e branco.

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