Às vezes ao
longo de minha vida, pensei e me senti como se não fosse deste mundo.
Meu
estranhamento advinha da minha constante sensação em não me sentir devidamente
integrada ou compreendendo o cerne dos objetivos da maioria das experiências nas
quais as outras pessoas esperavam me ver integrada.
“Desce do mundo da lua”, dizia constantemente minha mãe.
“Acorda mãe”, em que mundo a senhora está? Afirmativa
sempre na ponta da língua de minha filha.
E por aí vão
as críticas em relação a minha inexplicável, mas persistente, “viagem mental” e
olha que sem precisar de nenhum tipo de aditivo alucinógeno.
Fico
imaginando se eu em algum momento fumasse um back, aí é que eu faria um tour
sem limites.
Mas falando
sério, penso o que seria de mim, neste louco mundo se não houvessem estas
escapulidas, tipo férias de momentos, instantes e até horas em que eu
simplesmente me transmuto, sei lá para onde, mas que com certeza não se trata
de lugares ruins, pois sempre retorno mais tranquila e inspirada me sinto.
Por outro
lado, após cada “viagem”, elimino uma série de necessidades e pseudos quereres,
que vejo aprisionando silenciosamente as pessoas que me cercam.
E para cada
acessório que ao “viajar” me desfaço, para que a bagagem mental seja mais leve,
mais no retorno à realidade, me sinto abastecida de surpreendentes valores,
dantes soterrados sob a pressão de um sistema humano viciadamente inútil.
Então
concluo que não passo de uma pomba lerda, sempre a pelo menos um passo atrás
dos descolados e dos ligadões que, a cada dia, explodem seus corações na
corrida frenética para lugar algum, que será igualzinho ao meu, cremada ou
enterrada, levando consigo o peso do seu permanente “ter”, cuja entrada sei lá
onde, definitivamente será vetada, pois é por aqui que tudo fica e esta é a
única certeza.
Decepção que
no final, não terei...
Afinal, alguma
compensação deveria existir para uma pomba lerda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário