terça-feira, 23 de janeiro de 2018

ELE TINHA RAZÃO


Em um certo dia, um líder comunitário escreveu em rede social que eu e outros mais não passávamos de ativistas das letras,  ou seja, ativistas das redes sociais e da mídia em geral.
Quando li, fiquei profundamente ofendida, pois passei grande parte de minha vida lutando com minhas letras e voz em prol de mais justiça social, todavia, na medida em que o tempo foi passando, a minha mágoa foi sendo substituída pela bendita lógica, como faço  com o tudo mais, ao ponto de, neste momento, reconhecer publicamente que ele tinha razão, afinal, sempre evitei passeatas, reuniões frente as costumeiras tragédias, enfim, portei-me como uma observadora atenta que, em seguida, tirava minhas conclusões, baseadas em tudo que via ou ouvia, ciente de que desta forma eu me colocaria isenta das emoções que estas situações podem fazer disparar em nossas mentes e que tiram grande parte da capacidade de se refletir sobre os vários ângulos que todo fato apresenta.
 Optei em ser o que sempre fui, uma cronista que pensa e analisa os fatos e leva ao público, querendo despertar nele, a também vontade de pensar mais profundamente, para que possa vir a tirar suas próprias conclusões, que podem ser absolutamente contrárias às minhas, mas pelo menos, não ficou apenas como mais um fato que, pela constância e volume, tornou-se banal.
Desde o início de meus trabalhos profissionais, compreendi que cada um tem o seu papel social bem distinto e esta é uma premissa tão verdadeira que, no ramo da comunicação, são inúmeras as especializações, até porque, existem as afinidades profissionais, havendo espaço largo e produtivo para todos.
Todavia, esta minha conscientização meio que tardia, traz à tona um tema bem mais importante para novos estudos e atenção, que é a sistemática mania que se tornou normal nos relacionamentos de qualquer natureza dos seres humanos em conciliar o que falam, pensam e até escrevem com suas posturas cotidianas.
Ah! Como é difícil não esbarrarmos na hipocrisia que nos acompanha em nossos cotidianos e que, generosamente, chamamos de pressão social e a justificamos com inúmeras situações, sejam práticas ou tão somente emocionais.
Penso, então, que por mais que nos coloquemos como defensores deste ou daquele lado, sempre esbarraremos nas conveniências do mesmo sistema que condenamos, mas no qual estamos sempre de uma forma ou de outra inseridos, soterrando, silenciosamente, qualquer chance de corrigirmos as mazelas deste mesmo sistema que criamos e mantemos, num aprisionamento a cada dia mais cruel.
Ao fugir dele, pois compreendi ainda muito cedo que jamais o mudaria, busquei fazer aquilo que me era possível, sem espadas ou lanças, sem glórias ou refletores, num compartilhamento contínuo com as mentes que me acompanham.



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