segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

 SURREAL, na falta de uma palavra mais adequada para definir o espetáculo das diferenças sistêmicas que se apresentou no Paço municipal de Itaparica, nesta manhã de 15 de janeiro de 2018, quando da posse da nova Secretária de saúde, senhora Estela de Souza.
Minhas observações são resultadas de um espanto generalizado de uma representação pra lá de inimaginável em uma terra abandonada pelos poderes públicos e que, como resultado, fez nascer e se desenvolver um povo acanhado, sofrido e marginalizado, incapaz de ter voz ativa associado à sensatez da busca do que acredita ser os seus direitos.
Enquanto, uma elite frajola, elegante, cheirosa e desconhecida à cidade e ignorante das reais necessidades da mesma, discursava no salão imperial, aplaudindo a si mesmo, meia dúzia de oposicionistas gritavam palavras de ordem em nome de um povo acovardado que se escondia atrás de muros e janelas, incapazes de ter voz ativa, além do anonimato das esquinas, bares e corredores, numa expressividade indubitável de sua submissão ao chicote do poder que por longas décadas a mantém refém do medo de simplesmente existir.
Sozinha diante das teclas de meu computador, penso e repenso no absurdo de contratarmos para secretariar a saúde uma profissional do nível e gabarito desta ilustre senhora, levando-me a concluir que é muita areia para um caminhãozinho tão insignificante como Itaparica que, sequer, consegue recursos necessários para abastecer com suficientes remédios sem interrupções as demandas dos munícipes.
E não fosse sério, diria que se trata tão somente, de uma piada de mau gosto.
Se sou contra, não, apenas gostaria de entender esta dança política desalmada que confunde e, até então, pouco esclareceu.
Todavia, na tentativa de uma isenção, que confesso não é fácil, já que minha mente é humanista e naturalmente me perco quando o assunto é política, penso então, que um líder precisa fazer articulações para a obtenção de recursos e que, talvez, não se esteja sendo devidamente justo na avaliação dos relacionamentos da Prefeita Marlylda com os donos atuais das bolas da vez, que é o PT e o Governador Rui Costa e seus aliados.
Sem querer ao pensar nisto, volto ao ex-Prefeito Cláudio Neves e sua capacidade de articulações políticas, tão aplaudidas pelo povo desta cidade, não me deixando também esquecer que a referida prefeita é cria dele e que, apesar de renega-lo, provavelmente em seu voo solo, apenas copie sua forma de singrar pelas entranhas do poder, obtendo assim, prestígio para sí e prováveis recursos para a cidade.
Sei lá... tudo que sei é que nada sei.
Assim como os que tudo sabem, não compareceram, talvez para não ser enquadrados no hall dos “ridículos da oposição barulhenta”, como foram chamados os seis cidadãos que ousaram gritar seus protestos, ou terem suas imagens comprometidas ao lado de um governo aparentemente forte que ostenta segurança e nenhum medo dos revezes políticos, talvez, certos que estão, da vontade enfraquecida do povo.
Concluo, finalmente, que antes de rejeitar uma nova Secretária, deve-se cobrar a omissão dos líderes políticos desta “Cidade Paraíso” que tal qual, qualquer outro candidato a cargo público, só aparecem nos meses eleitorais, distribuindo sorrisos, promessas e bandinhas, sempre prontos a fazerem o povo dançar.
Como esquecer as palavras de meu patrão, amigo inesquecível ex-deputado Federal pernambucano, cujo nome por respeito vou omitir, mas que ensinou a esta então jovem na época, a visão do poder sobre o povo ao eleger a canção “Fuscão Preto” na década de setenta, como o sagrado calmante à rebeldia da impaciência do povo brasileiro, quando o silêncio se apresentava nas aparições públicas, levando-me a fazer analogia com o Navio Negreiro de Castro Alves, sempre, infelizmente, muito atual.
“No entanto o Capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..." 
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
          Faz doídas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
          E ri-se Satanás

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