segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O TEMPO


Amanheci agitada como há muito não acontecia, o que me fez voar ao passado em que eu vivia permanentemente agitada, correndo atrás do tempo, sem alcança-lo, o que me trazia uma profunda angústia com gosto de frustração, incompetência pessoal que, mais que magoar o ego, destruía minha saúde física e mental.
Física, mas invisível, tal qual o emocional que eu nem me apercebia o quanto destoava de minha natureza, que na realidade era alegre, solidária e apaixonada.
Invisível, pois estava me corroendo lenta e gradativamente e cujos resultados danosos só vim a conhecer muitos anos mais tarde, enquanto o emocional devorou-me preciosos anos que deveriam ter sido de pura plenitude.
Pensando em tudo isso nos dias atuais, superados os efeitos colaterais, pouso o olhar carinhoso sobre mim mesma e me desculpo, oferecendo o meu perdão à minha estupidez existencial e, ao mesmo tempo, acariciando delicadamente a minha mente amiga que, em dado momento, determinada, disse basta, jogando por terra todos os resquícios de vaidade e soberba, para depois erguer-me generosamente, com uma nova forma de enxergar a vida.
Então, por quê amanheci com os velhos sintomas de uma patologia que pensei estar curada?
Talvez, porque acostumei-me tanto com o estresse que este, adormecido nas células de meu corpo, vez por outra, dê sinal de vida, a fim de lembra-me que nada, absolutamente nada, vale os transtornos de inserir-me no mundo louco que me cerca.
Tenho estado tão bem assim, mudar para quê?
Que se dane todo o restante sistêmico que aparentemente estou perdendo.
Eu tenho o sossego para ouvir os pássaros, o silêncio bendito para escutar a mim mesma e a harmonia necessária para ir sempre aprendendo com a vida.
Respiro fundo e já me sinto de volta à velha e sorridente Regina, que em um certo dia abdicou de correr e passou a caminhar, lado a lado com o tempo.


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