Almocei e como faço todos os dias, deitei-me
sobre o sofá e fiquei olhando pelos vidros das duas janelas e da porta o sol ameno
que decidiu, desde os últimos três dias, ocupar o seu lugar de direito,
trazendo de volta a nós, moradores deste pequeno paraíso, a alegria de senti-lo,
após meses de muita chuva e de surpreendente frio.
Desvio o olhar
e percebo que o sol se reflete na madeira branca do forro do telhado da sala,
oferecendo a minha mente uma espécie de liberdade, através dos desenhos livres
de cada raio solar, levando-me a pensar o quanto gosto de viver, conviver e a
cada dia me surpreender.
Hoje é
sexta-feira e confesso que me sinto muito cansada, afinal, a cada década venho
percebendo que preciso fazer mais esforço para aguentar o tranco físico e
principalmente emocional para executar as minhas lidas diárias de profissional.
Às vezes
chego a ouvir a parte racional de minha mente pedindo socorro, mas aí, vem a
outra parte que é a emocional, toda faceira com suas argumentações de aparente
lógica, convencendo ao meu todo de criatura ativa de que é preciso continuar para,
afinal, não deixar morrer a chama ainda ardente que garante a luz do tudo mais
que me rodeia.
Mas que nas
sextas estou um bagaço, nem mesmo esta minha mente dividida, mas resistente,
consegue disfarçar.
E é justo
quando finalmente posso relaxar curtindo o retorno do sol e a maciez do sofá,
que posso compreender o quanto tem me custado ainda estar sobrevivendo com
dignidade profissional em meio a um sistema cruel de homens, lobos e vampiros
que se misturam e se confundem, mordendo ou sugando, numa constante guerra
silenciosa.
Penso então
que o que realmente importa não é o meu cansaço, e sim, o sempre brilho do sol
que tardou, mas chegou, acredito que para ficar, pondo fim ao inverno
necessário, não me deixando desta forma esquecer da importância das alternâncias,
seja lá do que for.
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