São duas
horas da manhã, penso que já dormi o quanto bastava, se bem que acordei com o
galo de um vizinho bem próximo que esgoelado, antecipa o amanhecer.
Como
geralmente acontece, minha mente está a mil, ficando até difícil selecionar um
assunto para escrever, afinal, eu ou você, se pararmos para analisar o nosso
dia de ontem, que consideramos quase igual aos demais já vividos com raras exceções,
chegaremos à conclusão de que por tão somente banalizarmos o nosso cotidiano,
deixamos passar fatos importantíssimos que poderiam nos servir no mínimo como
aprendizado do que devemos ou não copiar ou reverberar.
Esquecemos que
o que ouvimos, lemos e assistimos, através das muitas e variadas mídias, nada
mais são que mecanismos aliciadores, responsáveis diretos pela maioria de
nossas atitudes, ganhando bonito de qualquer ensinamento doméstico ou formal,
já que é contínuo, tendo como propagadores, cada pessoa com a qual interagimos
ao longo de cada dia.
A isto chamamos
de convivência, daí dizermos que este ou aquele é fruto do meio em que vive, já
que os parâmetros avaliativos que recebem são específicos de seu meio. Todavia,
com o advento da internet, que veio com o propósito de integrar ideias e
ideais, ampliando conhecimentos, globalizando propósitos, fomos acreditando
que, verdadeiramente, nossos mundinhos atravessariam fronteiras, mas aí, com
ela vieram as redes sociais, com a finalidade de humanizar a máquina e,
surpreendentemente, o tiro saiu pela culatra, pois transformou-se em muito
pouco tempo, em espaços delimitados e seletivos de trocas de posturas politicamente
corretas que aprisionam mentes e restringem um maior aprendizado, já que os
grupos são formados por uma pseuda afinidade que se desfaz, imediatamente, se
fora dos padrões desejados os sujeitos se postarem.
Ou seja: fale
e escreva o que eu espero ler ou ouvir, caso contrário te deleto, fazendo
nascer a partir desta liberdade seletiva mais um meio de atavismo que impede um
maior desenvolvimento intelectual.
Claro que não
estou me referindo a tipos de grosserias brutas e desnecessárias em qualquer
interação, mas tão somente, ao que deveria ser um terreno fértil de
aprendizado, através das experiências, assim como da forma de ver e avaliar de
outros, numa ampliação natural de novos entendimentos que pudessem enriquecer
os nossos próprios, numa troca gratificante de vida e liberdade.
Mas poucos
se valem desta ferramenta como mais um mecanismo evolutivo.
Quando cerceamos a nós e aos demais, além da conveniência
adequada a um relacionamento de qualquer natureza, coibimos a espontaneidade,
que é bem diferente da sinceridade agressiva que ofende e nada de producente
oferece, e que pode ser notada sistematicamente, pois como desavisados, trocamos
alhos por bugalhos, num pot-pourri de inadequações online, passando a
exercitarmos por horas a fio a arte de como manipular palavras que expressem a
nossa necessidade de ser aceitos, elogiados e consolados.
Solidão
existencial que reside sorrateiramente em cada um de nós.
O galo
calou, talvez, tenha voltado a dormir por ter se dado conta de que é ainda muito
cedo.
Acho que
farei o mesmo...
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