sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O GALO SE CALOU


São duas horas da manhã, penso que já dormi o quanto bastava, se bem que acordei com o galo de um vizinho bem próximo que esgoelado, antecipa o amanhecer.
Como geralmente acontece, minha mente está a mil, ficando até difícil selecionar um assunto para escrever, afinal, eu ou você, se pararmos para analisar o nosso dia de ontem, que consideramos quase igual aos demais já vividos com raras exceções, chegaremos à conclusão de que por tão somente banalizarmos o nosso cotidiano, deixamos passar fatos importantíssimos que poderiam nos servir no mínimo como aprendizado do que devemos ou não copiar ou reverberar.
Esquecemos que o que ouvimos, lemos e assistimos, através das muitas e variadas mídias, nada mais são que mecanismos aliciadores, responsáveis diretos pela maioria de nossas atitudes, ganhando bonito de qualquer ensinamento doméstico ou formal, já que é contínuo, tendo como propagadores, cada pessoa com a qual interagimos ao longo de cada dia.
A isto chamamos de convivência, daí dizermos que este ou aquele é fruto do meio em que vive, já que os parâmetros avaliativos que recebem são específicos de seu meio. Todavia, com o advento da internet, que veio com o propósito de integrar ideias e ideais, ampliando conhecimentos, globalizando propósitos, fomos acreditando que, verdadeiramente, nossos mundinhos atravessariam fronteiras, mas aí, com ela vieram as redes sociais, com a finalidade de humanizar a máquina e, surpreendentemente, o tiro saiu pela culatra, pois transformou-se em muito pouco tempo, em espaços delimitados e seletivos de trocas de posturas politicamente corretas que aprisionam mentes e restringem um maior aprendizado, já que os grupos são formados por uma pseuda afinidade que se desfaz, imediatamente, se fora dos padrões desejados os sujeitos se postarem.
Ou seja: fale e escreva o que eu espero ler ou ouvir, caso contrário te deleto, fazendo nascer a partir desta liberdade seletiva mais um meio de atavismo que impede um maior desenvolvimento intelectual.
Claro que não estou me referindo a tipos de grosserias brutas e desnecessárias em qualquer interação, mas tão somente, ao que deveria ser um terreno fértil de aprendizado, através das experiências, assim como da forma de ver e avaliar de outros, numa ampliação natural de novos entendimentos que pudessem enriquecer os nossos próprios, numa troca gratificante de vida e liberdade.
Mas poucos se valem desta ferramenta como mais um mecanismo evolutivo.
 Quando cerceamos a nós e aos demais, além da conveniência adequada a um relacionamento de qualquer natureza, coibimos a espontaneidade, que é bem diferente da sinceridade agressiva que ofende e nada de producente oferece, e que pode ser notada sistematicamente, pois como desavisados, trocamos alhos por bugalhos, num pot-pourri de inadequações online, passando a exercitarmos por horas a fio a arte de como manipular palavras que expressem a nossa necessidade de ser aceitos, elogiados e consolados.
Solidão existencial que reside sorrateiramente em cada um de nós.
O galo calou, talvez, tenha voltado a dormir por ter se dado conta de que é ainda muito cedo.
Acho que farei o mesmo...



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