Os cotidianos
deveriam ser as balizas do senso de pertencimento de nossas próprias vidas, mas
infelizmente não são, porque estamos sempre muito preocupados com um vai e vem
pessoal de sobrevivência, deixando nossos destinos ao encargo do sistema, sem
que sejamos capazes da compreensão primária de que este, nada mais representa
que a imagem e semelhança de nossa alienação existencial.
Por todo o
tempo levantamos bandeiras de todas as naturezas, cor, gênero, política, defesa
ecológica e etc., deixando nossas vidas ao encargo da sorte ou de Deus.
Enquanto
isso, vez por outra, grandes mazelas cotidianas nos abalam, porque são
eficientes em nos mostrarem que poderíamos ter sido atingidos, assim, conseguimos
em instantes, nos colocar no lugar do outro, podendo sentir os espasmos
emocionais de nossa vulnerabilidade.
Até quando,
deixaremos a segurança das nossas vidas à cargo do acaso?
Até quando
choraremos as dores do mundo, secaremos as lágrimas e seguiremos em frente, à
espera da próxima tragédia, que até, pode demorar décadas, mas inevitavelmente,
um dia chega, como chegou neste amanhecer de 24 de agosto de 2017, numa rápida,
simples e corriqueira viagem de travessia marítima, onde o descaso chegou ao
seu ápice.
Até quando,
faremos apologias com as banalidades cotidianas, sem, no entanto, acreditarmos
que elas também podem nos atingir?
Até quando,
permaneceremos cegos, surdos e mudos numa cumplicidade inexplicável a luz da
razão, aos descasos sociais, políticos, mas principalmente humanos?
Até quando,
buscaremos culpados, se somos todos responsáveis, já que por esta ou aquela
razão, acreditamos que o melhor é deixar que algum outro, decida o que é melhor
para a condução sadia e segura para nossas vidas?
Até quando
nossos valores serão voláteis, egocêntricos ou alienados, para que possamos
aprender que “as tragédias” cotidianas podem ser evitadas, controladas ou
simplesmente, eliminadas, se a elas estivermos atentos, observando os sinais
que são absurdamente visíveis?
Penso então,
que enquanto, olharmos o nosso cotidiano sem o devido senso de responsabilidade
pessoal, trazendo para nós, os bônus e os ônus conscientes de que precisamos
zelar pelas nossas vidas, as tragédias se seguirão, roubando vidas, destroçando
almas.
As razões
das tragédias em sua maioria são muito óbvias, mas estamos sempre muito
ocupados ou comprometidos de alguma forma para evita-las.
Até quando?
E aí,
resta-nos chorar pelos que se perderam ou agradecer a Deus por nos ter dado,
naquele instante, o livramento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário